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Passado um mês após o aparecimento de um novo tipo de coronavírus na China, nenhum caso de pessoa infectada no Brasil foi confirmado, embora o governo trabalhasse, na sexta-feira (31), com 12 suspeitas, e aguardasse o resultado de exames. Na mesma data, não havia um registro sequer de circulação do vírus na América Latina. Mesmo assim, máscaras sumiram das prateleiras das farmácias de São Paulo.
Epidemias, como a atual, que tem feito o governo chinês isolar populações inteiras, mexem com o imaginário das pessoas, segundo a professora Janine Cardoso, do programa de pós-graduação em Informação e Comunicação em Saúde da Fiocruz, no Rio de Janeiro, em entrevista ao Nexo. Por isso, jornais e canais de televisão precisam se preocupar em não gerar pânico desnecessário na população.
Cuidado que não aconteceu em 2009, quando foi noticiado, com base num modelo matemático, que a gripe causada pelo vírus H1N1 deveria atingir 35 milhões de brasileiros em dois meses.
No mesmo ano, notícias de uma epidemia de febre amarela que não houve, segundo especialistas, levaram pessoas que não podiam se vacinar a buscar imunização. Houve mortes por conta das reações à vacina.
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Para Eliseu Waldman, professor do departamento de epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, a imprensa aprendeu com o episódio. “A mídia entendeu melhor seu papel e está, em média, pelo menos, tendo uma postura mais cuidadosa”, disse, ao Nexo.
Uma cobertura mais responsável, segundo Janine Cardoso, passa por problematizar as informações passadas pelos órgãos oficiais, como questionar o número de mortos dentro de um universo de infectados.
Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), a gripe comum, por exemplo, mata até 650 mil pessoas todos os anos. Até o domingo (2), o coronavírus 2019-nCoV, como é chamado o novo vírus, infectou mais de 17 mil pessoas. Ao todo, 361 morreram, todos na China, com a exceção de um homem que morreu nas Filipinas.
Embora a questão possa ser colocada em perspectiva, a responsabilidade das autoridades públicas permanece alta. Na quinta-feira (30), a OMS declarou a epidemia da doença como emergência de saúde pública de interesse internacional, o que significa que um problema local da China passou a ter implicações em outros países.
Os governos nacionais precisam, a partir daí, decidir quais medidas tomar para evitar a disseminação da doença. Um decreto do governo brasileiro na quinta-feira (30) mobilizou o Grupo Executivo Interministerial de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional e Internacional. Com isso, o Ministério da Saúde assumiu a coordenação com outros ministérios em ações conjuntas.
Em São Paulo, o governador do estado, João Doria, e o prefeito da capital, Bruno Covas, anunciaram a criação de um comitê de crise para tratar do problema, caso ele chegue ao Brasil.
Por ora, o vírus não circula no país e terá dificuldade de se espalhar por causa do verão brasileiro e de seu clima quente, segundo disse ao Nexo Edison Durigon, professor titular de virologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
O Ministério da Saúde recomenda medidas simples para prevenir a infecção, tendo em vista que o vírus é transmitido por gotículas de saliva: evitar contato próximo com infectados, lavar frequentemente as mãos, cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir, evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca e manter os ambientes bem ventilados.
As notícias falsas
Ao mesmo tempo em que se preocupa em monitorar a situação da doença no país, o governo brasileiro também têm se dedicado a combater notícias falsas. Durante entrevista na sexta-feira (31), os representantes do Ministério da Saúde tiveram que desmentir notícias como as que anunciavam o Carnaval que se aproxima como sendo a porta de entrada para o novo coronavírus no país.
Informações como a recomendação de uso de vitaminas para prevenir o contágio e uma suposta proibição de frequentar locais, como uma feira de importados em Brasília, para não se contaminar também passaram a circular. Todas falsas e desmentidas pela pasta.
Para os pesquisadores ouvidos pelo Nexo, as fake news indicam uma descrença generalizada na ciência e na política. Uma forma de combatê-las, segundo eles, seria educar a população para conferir a fonte da informação e a responsabilização de quem dissemina mentiras.
Espero ter ajudado;)