• Matéria: História
  • Autor: alvesvalrafael
  • Perguntado 6 anos atrás

Quais as estratégias adotadas pelos estadunidenses para se manterem na liderança do mundo pós final da Guerra Fria?

Respostas

respondido por: ingridbarboza2014
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Resposta:

Desde as civilizações mais remotas, a guerra sempre se fez presente. Na medida em que os conflitos entre tribos e entre as primeiras cidades-estado tornavam-se frequentes, a necessidade de estratégias militares também se tornou imperiosa. O pensamento estratégico, de forma geral, sempre expressou a cultura de um povo. Assim, povos asiáticos, como chineses e mongóis, transpunham várias peculiaridades de sua cultura para a sua arte militar. Fato semelhante também ocorreu com as civilizações ocidentais.

Entretanto, as guerras modernas e, sobretudo as guerras de caráter nacionalista e imperialista, tais como as Guerras Napoleônicas e Primeira Guerra Mundial, por assumirem uma proporção gigantesca, acabaram inaugurando uma nova forma de pensamento estratégico, que levava em conta a possibilidade de “escalada para os extremos”, para um nível de destruição total, como sentenciou o estrategista prussiano da época napoleônica, Carl Von Clausewitz. Após a Segunda Guerra Mundial, com o uso das bombas nucleares por parte dos EUA contra o Japão, o status de “guerra convencional” passou a ser radicalmente alterado e, por sua vez, o pensamento estratégico passou a circular, nas três primeiras décadas da Guerra Fria, em torno da ameaça de uma catástrofe nuclear.

Sabemos que as principais características da Guerra Fria foram a corrida armamentista, a corrida espacial e corrida tecnológica, que deram o tom da disputa entre potências ou blocos políticos, notadamente o Bloco Ocidental, liderado pelos EUA, e o Bloco Soviético, liderado pela URSS. A denominação “potência” no período da guerra fria extrapolava a noção de potência econômica ou política e militar convencional, que perdurara até o fim da Segunda Guerra Mundial. As potências do período da Guerra Fria eram, sobretudo, potências nucleares, isto é, países que tinham armazenamento de armas nucleares com potência suficiente para uma destruição a nível global.

Essa “queda de braço” geopolítica baseava-se em uma noção muito peculiar de estratégia militar, que alguns pesquisadores chegaram a denominar de “equilíbrio do terror”. Todo o esforço do pensamento estratégico, tanto dos EUA quanto da URSS, concentrava-se em retardar ao máximo um conflito nuclear. O fato conhecido como Crise dos mísseis constituiu o ponto alto da tensão entre essas potências nucleares.

Entretanto, ao mesmo tempo que havia essa tensão potencial, havia também um “atalho estratégico”, que passou a ser incorporado ao pensamento militar convencional: tratava-se, fundamentalmente, da guerrilha, que era encarada como “guerra subversiva”. O exemplo mais expressivo de conflito entre um exército convencional contra a tática de guerrilha foi a Guerra do Vietnã, que foi, exatamente por tal característica, uma guerra muito extensa e com resultados drásticos.

A tática da guerrilha foi adotada por facções comunistas em várias partes do mundo, incluindo o Brasil (vide a Guerrilha do Araguaia). O líder da Revolução Cultural Chinesa, Mao Tsé-Tung, foi um dos maiores instigadores desse padrão de “guerra prolongada” que a guerrilha proporcionava no contexto da Guerra Fria. Che Guevara, na mesma época, chegou a desenvolver um método próprio de guerrilha, chamado de foquismo.

O fato é que, em um cenário em que a hipótese de uma guerra de proporções mundias poderia levar a uma catástrofe nuclear, formas de combate como a guerrilha e a “contraguerrilha” tornaram-se a reação simétrica a tal situação. Essa forma de guerra provocava uma tensão psicológica e moral, mas sem, contudo, “escalar para os extremos”. O pensamento estratégico de potências como os EUA e a URSS funcionou durante um tempo, metaforicamente falando, como um tabuleiro de xadrez sem nunca chegar a um “xeque-mate” (guerra nuclear), apenas manipulando os focos de conflitos locais em várias regiões do mundo. Como bem acentuou o cientista político Raymond Aron, no contexto dos anos 1960:

“[…]a estratégia continua a ser total, no sentido de que não se reduz ao movimento dos exércitos ou à condução das operações militares, mas só diretamente sofre a influência do que se denomina de “estratégia nuclear”, ou da doutrina do emprego dissuasivo das armas nucleares. Como a utilização efetiva dessas armas é rejeitada pelos dois lados, é dentro do quadro traçado por essa rejeição que combatem as superpotências.” (ARON, Raymond. “Comentário sobre a evolução do Pensamento Estratégico (1945-1968): Ascensão e Declínio da Análise Estratégica”. In: Estudos Políticos. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1985. p. 546-547)

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