• Matéria: Português
  • Autor: matheussantosbrito20
  • Perguntado 6 anos atrás

Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato

com a eternidade. Quando eu era muito pequena ainda

não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se

pouco deles. [...] Afinal minha irmã juntou dinheiro,

comprou e ao sairmos de casa para a escola me

explicou:

– Tome cuidado para não perder, porque esta bala

nunca se acaba. Dura a vida inteira.

– Como não acaba?

– Parei um instante na rua, perplexa.

– Não acaba nunca, e pronto.

Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para

o reino de histórias de príncipes e fadas. [...] Com

delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.

– E agora que é que eu faço? – perguntei para não

errar no ritual que certamente deveria haver.

– Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho

dele, e só depois que passar o gosto você começa a

mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você

perca, eu já perdi vários.

– Perder a eternidade? Nunca.

[...]

– Acabou-se o docinho. E agora?

– Agora mastigue para sempre.

Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a

mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa

cinzento de borracha que não tinha gosto de nada.

Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na

verdade, eu não estava gostando do gosto. E a

vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie

de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou

de infinito. Eu não quis confessar que não estava à

altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto

isso, eu mastigava obedientemente, sem parar. Até que

não suportei mais, e, atravessando o portão da escola,

dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.

– Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos

espanto e tristeza.

– Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!

– Já lhe disse – repetiu minha irmã – que ela não

acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. [...] Não fique

triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.

Eu estava envergonhada diante da bondade de minha

irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que

o chicle caíra da boca por acaso. Mas aliviada. Sem o

peso da eternidade sobre mim.

1) Qual é o tempo verbal predominante nesta crônica?​

Respostas

respondido por: ikeizumi25
1

Resposta:

isso e um poema pó

Explicação:

que faz um poema

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