quais as principais correntes filosóficas na Grécia Antiga e de que forma influenciaram as sociedades contemporâneas?
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A palavra metafísica (do grego, meta ta physikd, “o que está além da natureza”) tem sua gênese em Andrônico de Rodes, organizador da obra de Aristóteles, por volta do ano 50 a.C.
Mas o que seria a metafísica?
Segundo o filósofo norte-americano Will Durant, a “metafísica se caracteriza pela busca da realidade máxima de todas as coisas: da natureza real e final da matéria (ontologia), da mente (psicologia filosófica) e da inter-relação de ‘mente’ e matéria nos processos de percepção e conhecimento (epistemologia)”. A metafísica, dessa maneira, implica uma tentativa de ultrapassar a natureza das coisas para além do que nos aparece numa primeira impressão. Usualmente, o metafísico é aquele que vislumbra captar a essência da realidade ou da natureza, busca entender a gênese de nossos conhecimentos ou a formação de nossas ideias.
No mundo clássico, a metafísica é o ponto de partida do sistema filosófico, uma vez que analisar o ser em geral é o pressuposto para analisar as particularidades da realidade. A discussão sobre a natureza real e final da matéria tem sua gênese na filosofia pré-socrática, quando Heráclito, por um lado, afirmava que o movimento é a essência do cosmo (“tudo flui”), ao passo que Parmênides dizia que o movimento não passava de uma ilusão dos sentidos.
Ainda na Grécia antiga, Platão afirmava que o mundo sensível, isto é, o mundo que conhecemos a partir de nossos sentidos, não era mais do que “sombras” ou “aparências”. Para ele, a verdadeira realidade, a essência de tudo que vemos, estaria no mundo das ideias, o mundo inteligível. Por exemplo, se, na realidade sensível, haveria manifestações imperfeitas da justiça, isso significa que, no mundo das ideias, reside a justiça perfeita, ideal.
Aristóteles, entretanto, negou o dualismo platônico. Para ele, se nós, seres humanos, possuímos características em comum que nos definem como membros de uma mesma espécie, isso não significa que exista um “homem ideal”, do qual derivam todos os outros. Para Aristóteles, o que ocorre é que nós temos vários elementos em comum (nossa forma) e várias particularidades (a matéria). Nossa própria mente, por um processo de abstração, efetua essa separação. Ao argumentar dessa maneira, o filósofo rejeitou a ideia platônica inatista, segundo a qual haveria ideias em nossa alma anteriores a experiências, as quais seriam despertas no contato com o mundo real.
Muitos medievais pensavam a metafísica como subdividida em ontologia (o exame da realidade em seu sentido transcendente), cosmologia ou filosofia natural (isto é, a essência da matéria), psicologia racional (pensar a alma, sua natureza e propriedades) e teologia natural (o conhecimento de Deus e as provas de sua existência). Em sua Teoria da Iluminação, Santo Agostinho, ícone da filosofia patrística, afirma que a “fé precede o intelecto”, de maneira que as verdades do mundo sensível só se tornam plenas se iluminadas por Deus, o qual reside em nossa alma – ou, como disse o filósofo, é “mais íntimo a nós do que nós em nós mesmos”. Santo Tomás de Aquino, ícone da filosofia escolástica, sem diminuir a importância da fé, afirmou que determinadas verdades podem ser atingidas unicamente pela razão; para ele, por exemplo, a existência de Deus poderia ser provada racionalmente, sem necessidade de fé, ainda que essa permanecesse superior ao intelecto.
Na modernidade, o debate ganha novos contornos: a problemática da consciência e da subjetividade torna-se mais fundamental. René Descartes, Blaise Pascal e Baruch Spinoza, por um lado, são tidos como racionalistas: herdeiros de Platão, para eles os sentidos são, em si, fonte de engano, e a verdade reside em última instância na razão, na qual moram as ideias inatas, isto é, anteriores à experiência. Locke, Bacon, Newton, Hobbes e Hume, por outro lado, são tidos como empiristas: herdeiros de Aristóteles, para eles não há nada no intelecto que não estivesse antes no sentido, sendo a experiência a fonte da verdade. Segundo Locke, nós nasceríamos como “tábulas rasas”, e todas as ideias têm origem em alguma sensação.
Immanuel Kant supera o debate entre racionalismo e empirismo ao discutir como as ideias que provêm da experiência são encaixadas, por assim dizer, em intuições e categorias, como o tempo e o espaço. Para ele, nossa mente teria uma espécie de “óculos”, sem o qual nada poderia ser interpretado. Viveríamos, assim, num mundo dos fenômenos (aquilo que nossa mente é capaz de conhecer), sendo a realidade em si, o mundo dos “númenos”, inacessível. Essa virada na filosofia, quando a discussão metafísica deixa de centrar-se nos objetos para questionar o próprio sujeito e sua possibilidade de conhecimento (mostrando, enfim, que o homem é incapaz de conhecer tudo que estiver além de nossas intuições e categorias), é chamada de Revolução Copernicana da filosofia.
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