VÓ CAIU NA PISCINA
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Noite na casa da serra, a luz apagou. Entra o garoto:
– Pai, vó caiu na piscina.
– Tudo bem, filho.
O garoto insiste:
– Escutou o que eu falei, pai?
– Escutei, e daí? Tudo bem.
– Cê não vai lá?
– Não estou com vontade de cair na piscina.
– Mas ela tá lá...
– Eu sei, você já me contou. Agora deixe seu pai fumar um cigarrinho descansado.
– Tá escuro, pai.
– Assim até é melhor. Eu gosto de fumar no escuro. Daqui a pouco a luz volta. Se não voltar, dá no mesmo. Pede à sua mãe pra acender a vela na sala. Eu fico aqui mesmo, sossegado.
– Pai...
– Meu filho, vá dormir. É melhor você deitar logo. Amanhã cedinho a gente volta pro Rio, e você custa a acordar. Não quero atrasar a descida por sua causa.
– Vó tá com uma vela.
– Pois então? Tudo bem. Depois ela acende.
– Já tá acesa.
– Se está acesa, não tem problema. Quando ela sair da piscina, pega a vela e volta direitinho pra casa. Não vai errar o caminho, a distância é pequena, você sabe muito
bem que sua avó não precisa de guia.
– Por quê cê não acredita no que eu digo?
– Como não acredito? Acredito sim.
– Cê não tá acreditando.
– Você falou que a sua avó caiu na piscina, eu acreditei e disse: tudo bem. Que é que você queria que eu dissesse?
– Não, pai, cê não acreditou ni mim.
– Ah, você está me enchendo. Vamos acabar com isso. Eu acreditei. Quantas vezes você quer que eu diga isso? Ou você acha que estou dizendo que acreditei mas estou mentindo? Fique sabendo que seu pai não gosta de mentir.
– Não te chamei de mentiroso.
– Não chamou, mas está duvidando de mim. Bem, não vamos discutir por causa de uma bobagem. Sua avó caiu na piscina, e daí? É um direito dela. Não tem nada de extraordinário cair na piscina. Eu só não caio porque estou meio resfriado.
– Ô, pai, cê é de morte!
O garoto sai, desolado. Aquele velho não compreende mesmo nada. Daí a pouco chega a mãe:
– Eduardo, você sabe que dona Marieta caiu na piscina?
– Até você Fátima? Não chega o Nelsinho vir com essa ladainha?
– Eduardo, está escuro que nem breu, sua mãe tropeçou, escorregou e foi parar dentro da piscina, ouviu? Está com a vela acesa na mão, pedindo para que tirem ela de lá, Eduardo! Não pode sair sozinha, está com a roupa encharcada, pesando muito, e se você não for depressa, ela vai tem uma coisa! Ela morre, Eduardo!
– Como? Por que aquele diabo não me disse isto? Ele falou apenas que ela tinha caído na piscina, não explicou que ela tinha tropeçado, escorregado e caído!
Saiu correndo, nem esperou a vela, tropeçou, quase que ia parar também dentro d’água.
– Mamãe, me desculpe! O menino não me disse nada direito. Falou que a senhora caiu na piscina. Eu pensei que a senhora estava se banhando.
– Está bem, Eduardo – disse dona Marieta, safando-se da água pela mão do filho, e sempre empunhando a vela que conseguira manter acesa. – Mas de outra vez você vai prestar mais atenção no sentido dos verbos, ouviu? Nelsinho falou direito, você é
que teve um acesso de burrice, meu filho!
ANDRADE, Carlos Drummond de. Moça deitada na grama. Rio de Janeiro: Record, 1987.
01-O texto começa com as seguintes informações: “Noite na casa da serra, a luz apagou”. Essas informações justificam que fato da história?
a) Era tudo que o pai desejava.
b) Um bom motivo para usar a vela.
c) A falta de luz é a causa da avó cair na piscina.
d) É bom descansar no escuro.
02 – Que motivo gerou a falta de entendimento por parte do pai de Nelsinho?
a) O desinteresse do pai em querer ajudar a avó.
b) A diferença de interpretação do verbo cair.
c) O pai de Nelsinho não gosta de ajudar as pessoas.
d) O pai de Nelsinho é sempre distraído quando descansa.
03 – Qual foi a reação de Eduardo ao perceber que deixara sua mãe um bom tempo dentro da piscina, sem que ela pudesse sair de lá?
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04 – O texto que você acabou de ler é uma crônica. Responda às questões, levando em conta os constituintes básicos de uma narrativa.
a) Qual é o foco narrativo?
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b) Quais são as personagens dessa história?
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c) Onde se passa o episódio contado pelo cronista?
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05) “Mas de outra vez você vai prestar mais atenção no sentido dos verbos, ouviu?”
Se você prestou bastante atenção ao sentido dos verbos, explique o significado do verbo CAIR em cada uma das frases seguintes:
a) Pai, vó caiu na piscina.
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b) Não estou com vontade de cair na piscina.
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Respostas
Resposta:1-c
2-b
3- o homem ficou desesperado
4-a letra"a" eu não lembro como fiz.
B) o Nelsinho, Eduardo, a mãe de Nelsinho, e a dona Marieta.
C) em uma casa
5-a) tropeçou e escorregou
B) se banhar na piscina
Explicação:espero que isso ajude, boa sorte na tarefa^^
1. O texto começa com informações que justificam este fato da história: a falta de luz é a causa, ou seja, o motivo de a avó cair na piscina. Por esse motivo, a resposta correta é a letra C.
2. O motivo que gerou a falta de entendimento por parte do pai de Nelsinho foi a diferença de interpretação do verbo "cair". Dessa maneira, a resposta correta é a alternativa B. O menino indicou que a mulher tinha caído na piscina, como sinônimo de queda acidental. O pai entendeu que a mulher havia se jogado de propósito na piscina.
3. Ao perceber que deixara sua mãe um bom tempo dentro da piscina, Eduardo ficou desesperado. Por esse motivo, ele correu para a piscina e quase tropeçou em cima da mãe.
4. a. O foco narrativo é em terceira pessoa e o narrador é onisciente. Prova disso são os verbos em terceira pessoa, como "entra" e "saiu".
b. Os personagens da história são estes: o pai, a mãe, o filho e a avó.
c. O episódio se passa em uma casa na serra, como indica a primeira frase do texto.
5. a. "caiu": queda acidental.
b. "cair": se jogar de forma proposital.
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Bons estudos!