[...] Considerei-me feliz no lugar de contínuo da redação do O Globo. Tinha atravessado um grande braço de mar, agarrara-me a um ilhéu e não tinha coragem de nadar de novo para a terra firme que barrava o horizonte a algumas centenas de metros. Os mariscos bastavam- -me e os insetos já se me tinham feito grossa a pele... De tal maneira é forte o poder de nos iludirmos, que um ano depois cheguei a ter até orgulho da minha posição. Senti-me muito mais que um contínuo qualquer, mesmo mais que um, contínuo de ministro. As conversas da redação tinham-me dado a convicção de que o doutor Loberant era o homem mais poderoso do Brasil; fazia e desfazia ministros, demitia diretores, julgava juízes e o presidente. Logo ao amanhecer, lia o seu jornal, para saber se tal ou qual ato seu tinha tido o placet desejado do doutor Ricardo.
BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha.
3. ed. São Paulo: Ática, 1994. p. 99.
O texto, articulado com a obra, permite considerar que o narrador-personagem
A
se revela um ser humano desprovido de qualquer vaidade.
B
utiliza, no seu relato, uma linguagem essencialmente objetiva e precisa.
C
atribui tão somente aos outros a não realização de seus projetos de vida.
D
mostra, com o relato de sua trajetória de vida, o ambiente social que cerceia a ascensão social.
E
reconhece a atuação da imprensa de seu tempo como marcada pela ética e pelo compromisso com o social.
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mostra, com o relato de sua trajetória de vida, o ambiente social que cerceia a ascensão social
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mostra, com o relato de sua trajetória de vida, o ambiente social que cerceia a ascensão social.