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O antropocentrismo, kentron, "centro") é uma concepção que considera que a humanidade deve permanecer no centro do entendimento dos humanos, isto é, o universo deve ser avaliado de acordo com a sua relação com o ser humano, sendo que as demais espécies, bem como tudo mais, existem para servi-los. O antropocentrismo coloca o ser humano no centro do universo, postulando que tudo o que existe foi concebido e desenvolvido para a satisfação humana.[1][2][3]
O termo tem duas aplicações principais. Por um lado trata-se de um lugar comum na historiografia qualificar como antropocêntrica a cultura renascentista e moderna, em contraposição ao teocentrismo da Idade Média. A transição da cultura medieval à moderna é frequentemente vista como a passagem de uma perspectiva filosófica e cultura centrada em Deus a uma outra, centrada no homem – ainda que esse modelo tenha sido reiteradamente questionado por numerosos autores que buscaram mostrar a continuidade entre a perspectiva medieval e a renascentista.
Por outro lado, e em um contexto moderno, se denomina antropocentrismo as doutrinas ou perspectivas intelectuais que tomam como único paradigma de juízo as peculiaridades da espécie humana, mostrando sistematicamente que o único ambiente conhecido é o apto à existência humana, e ampliando indevidamente as condições de existência desta a todos os seres inteligentes possíveis.
Pode ser visto, então, num sentido pejorativo, significando uma desvalorização das outras espécies no planeta, estando então associado à degradação ambiental, visto que a natureza deveria estar subordinada aos seres humanos.
Em contraste, o antropocentrismo judaico-cristão estaria se baseando numa interpretação diferente, a dos textos bíblicos, que foram escritos em épocas onde o sentido central de determinada palavra como "domínio" tinha outro significado, que nesse caso não era o de tratar com desprezo como entendemos hoje, mas de zelar, cuidar com autoridade. Nesse novo ponto de vista podemos afirmar que o contexto bíblico trata na realidade do caminho contrário ao antropocentrismo, considerando que a espécie humana deve cuidar das espécies menos favorecidas de razão e consciência. Dentro da doutrina judaico-cristã, esse antropocentrismo se opõe ao teocentrismo que coloca Deus, e não o homem, no centro do universo, e ainda que isto sirva aos propósitos existenciais humanos, não se tem necessariamente o ser humano como centro, mas apenas como beneficiado por aquele considerado como centro, nesse caso, Deus.
Ademais, na Europa medieval, o suposto antropocentrismo, além de resultar num eurocentrismo que discriminava as tradições orientais, também tinha caráter aristocrático, não servindo sequer à toda a sociedade, mas sim a grupos privilegiados. Tudo isso, põe em dúvida se o conceito de antropocentrismo é realmente adequado nesse contexto.
O antropocentrismo, num outro sentido, pode tomar um aspecto cultural mais ousado — como na representação, típica na ficção científica da Era de Ouro — do ser humano como excepcional entre as espécies burras, como evidenciado nas ingênuas representações dos extraterrestres como vagamente humanoides. Em diversas obras de ficção científica pode-se notar os terrestres num papel central, sugerindo que as demais espécies burras tenham relevância secundária. Isso é um evidente paralelo em relação a posição do homem branco europeu sobre as demais etnias no período Renascentista.
Esta situação deu origem a uma extensa discussão acerca do chamado princípio antrópico — que, simplificadamente, postula que os valores possíveis para as constantes físicas universais estão de fato restritos àqueles que permitem a existência da espécie humana, ainda que não haja limitação de princípio para que assim seja —, e acerca da teoria do desenho inteligente, que utiliza esta limitação para afirmar que é evidente o desígnio de uma inteligência superior, artífice da ordem do universo.