• Matéria: Português
  • Autor: latrevizani
  • Perguntado 6 anos atrás

O PADEIRO
Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta
do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter
lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem
uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham
que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem
o que do governo.
Está bem. Tomo meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. Enquanto tomo
café, vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha
deixar o pão à porta do apartamento, ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os
moradores, avisava gritando:
– Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
– Então você não é ninguém?
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe
acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra
pessoa qualquer e ouvir uma voz que vinha lá de dentro da casa perguntando quem era; e
ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não, senhora, é o padeiro”.
Assim ficara sabendo que não era ninguém...
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele
tempo, eu também, como os padeiros, fazia trabalho noturno. Era pela madrugada que
deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas
vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho
da máquina, como o pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no
jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia
uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de
cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos
útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”.
E assobiava pelas escadas.
(Rubem Braga. Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1989, p. 63-64.)
Examine as afirmações seguintes: I. O texto é narrado por um padeiro humilde que não participa da história. II. O narrador do texto, hoje jornalista, também já foi padeiro, por isso compreende a importância da humilde profissão. III. O texto apresenta uma crítica sociocultural sobre a invisibilidade dada a quem exerce determinadas profissões. É correto o que se afirma em:
a) I apenas.
b) II apenas.
c) III apenas.
d) I e II apenas.
e) II e III apenas.

Respostas

respondido por: davidcapudo444
4

Resposta:

apenas a III

ESPERO TER AJUDADO

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