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Conforme salientado por vários escritores e livros, o processo de independência dos Estados Unidos foi conduzido graças ao enorme sentimento de autonomia que estabeleceu a união de todas as colônias contra a intervenção inglesa. Contada dessa forma, temos a impressão de que toda a população norte-americana partilhava das mesmas perspectivas políticas. No entanto, veremos que essa sensação de harmonia ruiu no desenrolar do século XIX.
Após o processo de independência, as elites econômicas do Norte e do Sul passaram a dialogar uma série de acordos que discutiam os divergentes interesses políticos e econômicos desses dois grupos. A diferença entre nortistas e sulistas tinha origem no processo de desenvolvimento de cada uma destas regiões. Enquanto o sul prosperava à custa do trabalho escravo e da exportação de matéria-prima para a Europa, o norte privilegiou o trabalho assalariado e a articulação de um poderoso comércio.
Estas diferentes orientações acabaram potencializando um confronto que primeiro se manifestou nas políticas fiscais, agrárias e trabalhistas da nação. O interesse nortista era diametralmente oposto ao que os representantes políticos do Sul enxergavam ser necessário para o desenvolvimento de sua economia. A união que outrora transformou nortistas e sulistas em filhos de uma mesma nação parecia falir mediante um caminho que não parecia oferecer um meio termo.
Com relação às taxações alfandegárias, o norte defendia a manutenção de alíquotas elevadas que pudessem conservar o desenvolvimento industrial interno. Em contrapartida, os sulistas desejavam que essas tarifas fossem reduzidas para que os produtos importados penetrassem sua economia com mais facilidade. Tal interesse se dava principalmente porque a região sul dos Estados Unidos não possuía um parque industrial desenvolvido.
Além disso, outra diferença se dava com relação às políticas de acesso às terras localizadas a oeste. Os grandes burgueses nortistas defendiam que as terras devolutas (que não possuíam dono) fossem oferecidas a um baixo custo. A medida seria imposta com o objetivo de desenvolver uma economia diversa e articulada com a criação de novos mercados consumidores. Em contrapartida, os fazendeiros sulistas eram a favor de uma política agrária mais rígida e concentradora de terras.
Contudo, a mais polêmica questão se desenrolava com relação ao fim da escravidão nos Estados Unidos. Os industriários apoiavam a proposta ao enxergarem nessa ação o surgimento de uma ampla camada de trabalhadores assalariados que poderiam ampliar o mercado consumidor dos produtos manufaturados. Em contrapartida, os fazendeiros do sul acreditavam que essa mudança prejudicava o desenvolvimento de suas lavouras, que dependiam exclusivamente do trabalho escravo.