• Matéria: História
  • Autor: isad8niz
  • Perguntado 5 anos atrás

quais penas eram imposta aos leprosos?

Respostas

respondido por: arthurrr445
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Resposta:

A partir de documentação produzida entre a primeira metade do século XIX e a primeira metade do século XX, prioritariamente relatórios médicos, o artigo aponta as concepções vigentes na comunidade médica colonial e entre as populações locais sobre a lepra, suas manifestações e seu enfrentamento. Enfoca as tensões quanto à prática de segregação dos leprosos e suas implicações sanitárias e sociais. Para compreender as raízes dos discursos e estratégias no meio médico português e colonial, recupera-se a trajetória das definições de isolamento, segregação, lepra e suas aplicações, ou ausência de referência, na literatura de missionários, cronistas e médicos em Angola e Moçambique a partir da segunda metade do século XVII.

Palavras-Chave: lepra; medicina; colonialismo; segregação; práticas de cura

ABSTRACT

Drawing on documents produced between the early nineteenth and mid-twentieth centuries, mainly medical reports, this paper indicates the prevailing conceptions in the colonial medical community and local populations about leprosy, its manifestations, and how to deal with it. It focuses on the tensions concerning the practice of segregating lepers and its social and sanitation implications. To comprehend the roots of the discourses and strategies in the Portuguese and colonial medical environment, the trajectory of the definitions of isolation, segregation, and leprosy are traced, as are their use in or absence from the writings of missionaries, chroniclers, and doctors in Angola and Mozambique as of the second half of the seventeenth century.

Key words: leprosy; medicine; colonialism; segregation; healing practices

Das origens

Dicionários informam que os termos ayslado e aislhado tiveram seu primeiro registro escrito em língua portuguesa em 1557 e que a etimologia de “isolar”, com o sentido de “tomar a forma de ilha”, é de 1653; “afastar-se da multidão” é de 1697; e “afastar um corpo do contato com outro”, de 1758. Deriva do latim insula, do italiano isolato, isola, com o sentido de “recôndito”, “solitário”, “construído em ilha”, “separado”. Por seu turno, o termo “segregado” apareceu pela primeira vez na forma escrita de nossa língua em 1563 e provém do latim segregare, com o sentido que se mantém até nossos dias de “separar”, “apartar”, “afastar”, “isolar”, “arredar”, “repelir”, “tirar”, “tomar”, “subtrair” e “privar” (Bluteau, 1720; Carvalho, Deus, 1890; Houaiss, 2001). Não é coincidência que, embora de antiga origem, os dois termos tenham se tornado correntes em língua portuguesa justamente nos séculos XVI e XVII, quando os europeus, em particular os portugueses, estavam envolvidos numa intensa jornada além-mar, encontrando-se e defrontando-se com paisagens, seres e culturas exógenas e exóticas ao seu olhar. O exercício do pensamento sobre si, diante do múltiplo, do distinto, do extremo, tornava os termos úteis e necessários para a demarcação identitária que se impunha em tal contexto (Todorov, 1989).

O crescente contato e conhecimento desses distintos ambientes, e seres animais e humanos, poderia ter levado à naturalização das diferenças, e os termos, consequentemente, caído em desuso. Não foi, entretanto, o que se passou. A expansão por mundos distantes paulatinamente construiu e consolidou, ao longo dos séculos, os demarcadores de vária ordem entre o “nós” – europeus – e o “eles”, todos os demais. Em relação à África, os séculos de tráfico de pessoas escravizadas e, depois, o colonialismo, desempenharam papel fundamental no engessamento dessas perspectivas, que acabaram por levar não só às teorias como às práticas de isolamento e segregação social. O exemplo histórico mais contundente é o do Apartheid na África do Sul; entretanto, o sistema colonialista como um todo pode ser perfeitamente definido como a “arte” de “separar, apartar, escolher; afastar, isolar, arredar, repelir, tirar, tomar, subtrair e privar”. Os discursos, as teorias e os efeitos dessa “arte”, na dimensão social do cotidiano, são razoavelmente bem conhecidos da historiografia sobre Moçambique (Capela, s.d., 1977; Penvenne, 1982, 1995; Zamparoni, 1998, 2007).

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