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O mundo enriqueceu-se com uma nova beleza: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado de grossos tubos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugindo é mais belo do que a Vitória da Samotrácia.1
(Filippo Tommaso Marinetti. "Manifesto do Futurismo". Le Figaro, 20.12.1909. Adaptado.)
1Vitória da Samotrácia: famosa escultura grega, considerada uma obra-prima do período helenístico e datada, aproximadamente, do ano de 190 a.C. Integra o acervo do Museu do Louvre.
Jaime Lerner, arquiteto e ex-prefeito de Curitiba que priorizou o transporte coletivo na capital paranaense, chamou o carro de "cigarro do futuro": "Você poderá continuar a usar, mas as pessoas se irritarão por isso." Depois de décadas em que o modelo curitibano, que privilegia corredores de ônibus, vem sendo copiado no exterior, é ainda lentamente que ganha adeptos no Brasil, com a adoção de corredores e ciclovias e a discussão de limitar, no Plano Diretor de São Paulo, a oferta de vagas de garagem.
O escritor e empresário australiano Ross Dawson tem opinião parecida à de Lerner: "Um dia as pessoas vão olhar para trás e se perguntar como era aceitável poluir tanto, da mesma forma como hoje pensamos sobre o tempo em que cigarro era aceito em restaurantes, aviões e lugares fechados".
Nos EUA, o carro perde espaço não apenas como meio de locomoção, mas também como objeto de desejo e expressão de um certo modo de vida. Demografia e economia, além da questão ambiental, fazem com que menos jovens tirem carteira de motorista e cidades invistam em sustentabilidade para atrair moradores. 20% dos jovens americanos entre 20 e 24 anos de idade não têm hoje habilitação - e o mesmo vale para 40% dos americanos de 18 anos. Em ambos os casos, o número de jovens que não dirigem dobrou entre 1983 e 201, segundo estudo da Universidade de Michigan.