• Matéria: Português
  • Autor: monts2460
  • Perguntado 5 anos atrás

(CEMEAM-2020) Leia os texto e responda.

Texto 1

Invejo o ourives quando escrevo:

Imito o amor

Com que ele, em ouro, o alto relevo

Faz de uma flor.


Imito-o. E, pois, nem de Carrara

A pedra firo:

O alvo cristal, a pedra rara,

O ônix prefiro.


Por isso, corre, por servir-me,

Sobre o papel

A pena, como em prata firme

Corre o cinzel.


Corre; desenha, enfeita a imagem,

A idéia veste:

Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem

Azul-celeste.


Torce, aprimora, alteia, lima

A frase; e, enfim,

No verso de ouro engasta a rima,

Como um rubim.


Quero que a estrofe cristalina,

Dobrada ao jeito

Do ourives, saia da oficina

Sem um defeito:


E que o lavor do verso, acaso,

Por tão subtil,

Possa o lavor lembrar de um vaso

De Becerril.

De Olavo Bilac


Texto 2


POÉTICA

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o

cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas


Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais

Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção

Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis


Estou farto do lirismo namorador

Político

Raquítico

Sifilítico.

De Manuel Bandeira


Sabendo que os textos e autores pertencem a períodos literários diferentes, parnasianismo e modernismo, e que os estilos literários anteriores podem ser criticados pelos seus sucessores. Comente os poemas com base nesses pressuposto.

Respostas

respondido por: geraldobotao
9

Resposta:

A análise comparativa dos dois poemas denuncia, inevitavelmente, o caráter de oposição entre si dos conteúdos e estilos das Escolas Literárias em que os dois poetas -- OLAVO BILAC e MANUEL BANDEIRA -- produziram suas obras.

Na verdade, o próprio teor de ambos os poemas (não sei se por coincidência) já explica a natureza e leis de cada Escola em que se classificam.

Vejamos:

Olavo Bilac enfatiza, em várias passagens, os ofícios finos, delicados, minuciosos, do ourives e do escultor (os quais procura imitar) fazendo analogia à arte magistral de escrever poesias como verdadeiras joias preciosas. Prevalece o culto à forma, à métrica rigorosa, à estética elaborada, objetiva e precisa; a arte justificada pela própria arte: eis aí, então, características do PARNASIANISMO.

Os versos abaixo não deixam dúvidas:  

"Imito-o. E, pois, nem de Carrara

A pedra firo:

O alvo cristal, a pedra rara,

O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,

Sobre o papel

A pena, como em prata firme

Corre o cinzel".

Manuel Bandeira utiliza seu poema como instrumento de contestação, desabafo e ruptura com todas as tradições da sua época, presas a modelos clássicos de literatura e arte.

O Modernismo, que ele defendia junto com outros poetas e artistas, pregava a necessidade de mudar todo o ambiente cultural em que viviam com o objetivo de experimentar novos conceitos, técnicas e inovadoras criações artísticas, levando o Brasil a um novo momento histórico em várias áreas.

Fugindo à forma engessada, matemática, purista, disciplinada e excessivamente formal do Parnasianismo, por exemplo, o movimento modernista queria liberdade de forma e expressão, bem como uma cultura genuinamente brasileira, desvinculada das amarras do padrão europeu e clássico.

Fiel a isso, Bandeira, logo no início do poema, revela seu grande descontentamento com a expressão "Estou farto...", que repete e enfatiza na defesa do seu ponto de vista.  

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