Olhe, ali, na restinga, à sombra daquela mesma reboleira de mato que está nos vendo, na beira do
passo, desencilhei; e estendido nos pelegos, a cabeça no lombilho, com o chapéu sobre os olhos, fiz
uma sesteada morruda.
Despertando, ouvindo o ruído manso da água tão limpa e tão fresca rolando sobre o pedregulho, tive
ganas de me banhar; até para quebrar a lombeira... e fui-me à água que nem capincho!
Debaixo da barranca havia um fundão onde mergulhei umas quantas vezes; e sempre puxei umas
braçadas, poucas, porque não tinha cancha para um bom nado.
E solito e no silêncio, tornei a vestir-me, encilhei o zaino e montei. Daquela vereda andei como três
léguas, chegando à estância cedo ainda, obra assim de braça e meia de sol.
— Ah! . .. esqueci de dizer-lhe que andava comigo um cachorro brasino, um cusco mui esperto e bom
vigia. Era das crianças, mas às vezes dava-lhe para acompanhar-me, e depois de sair a porteira, nem
por nada fazia cara-volta, a não ser comigo. E nas viagens dormia sempre ao meu lado, sobre a ponta
da carona, na cabeceira dos arreios.
Por sinal que uma noite...
Mas isso é outra cousa: vamos ao caso.
Durante a troteada bem reparei que volta e meia o cusco parava-se na estrada e latia e corria pra trás,
e olhava-me, olhava-me e latia de novo e troteava um pouco sobre o rastro; — parecia que o bichinho
estava me chamando! ... Mas como eu ia, ele tornava a alcançar-me, para daí a pouco recomeçar.
— Pois, amigo! Não lhe conto nada! Quando botei o pé em terra na ramada da estância, ao tempo que dava as
— boas tardes! — ao dono da casa, aguentei um tirão seco no coração... não senti na cintura o peso da guaiaca!
Tinha perdido trezentas onças de ouro que levava, para pagamento de gados que ia levantar.
E logo passou-me pelos olhos um clarão de cegar, depois uns coriscos tirante a roxo... depois tudo me
ficou cinzento, para escuro...
Eu era mui pobre — e ainda hoje, é como vancê sabe... —; estava começando a vida, e o dinheiro era
do meu patrão, um charqueador, sujeito de contas mui limpas e brabo como uma manga de pedras...
Assim, de meio assombrado me fui repondo quando ouvi que indagavam:
— Então patrício? Está doente?
— Obrigado! Não senhor, respondi, não é doença; é que sucedeu-me uma desgraça: perdi uma
dinheirama do meu patrão...
— A la fresca!...
— É verdade... antes morresse, que isto! Que vai ele pensar agora de mim!...
— É uma dos diabos, é... mas; não se acoquine, homem!Nisto o cusco brasino deu uns pulos ao focinho do cavalo, como querendo lambê-lo, e logo correu
para a estrada, aos latidos. E olhava-me, e vinha e ia, e tornava a latir...
Ah!... E num repente lembrei-me bem de tudo. Parecia que estava vendo o lugar da sesteada, o banho,
a arrumação das roupas nuns galhos de sarandi, e, em cima de uma pedra, a guaiaca e por cima dela o
cinto das armas, e até uma ponta de cigarro de que tirei uma última tragada, antes de entrar na água, e
que deixei espetada num espinho, ainda fumegando, soltando uma fitinha de fumaça azul, que subia,
fininha e direita, no ar sem vento...; tudo, vi tudo.
Estava lá, na beirada do passo, a guaiaca. E o remédio era um só: tocar a meia rédea, antes que outros
andantes passassem.
[...]
No texto lido, há palavras que podem causar estranheza ao significado. Anote as expressões cujos
significados você desconhece. Que tal tentar descobrir, observando os períodos/frases em que elas
aparecem? Caso não seja possível descobrir os significados, consulte o dicionário físico ou online.
2 Após a leitura e análise do excerto do conto, responda às perguntas a seguir:
a. Releia esse trecho: “Pois, amigo! Não lhe conto nada! Quando botei o pé em terra na ramada
da estância, ao tempo que dava as — boas tardes! — ao dono da casa, aguentei um tirão seco no
coração... não senti na cintura o peso da guaiaca!”
Esse trecho se refere a uma das falas do narrador-personagem. Como pode ser caracterizada essa
personagem, a partir da linguagem utilizada por ela?b. Pelas características da personagem que narra a história, em que lugar do Brasil se passam os
fatos narrados? Justifique.
c. Que palavras ou expressões do texto permitem chegar à conclusão de que “cusco brasino” se
refere a esse animal? Como o animal é descrito?
3 Vamos analisar os elementos que constituem a estrutura do conto?
a. Lugar:
b. Tempo:fatos narrados? Justifique.
c. Que palavras ou expressões do texto permitem chegar à conclusão de que “cusco brasino” se
refere a esse animal? Como o animal é descrito?
3 Vamos analisar os elementos que constituem a estrutura do conto?
a. Lugar:
b. Tempo:
LÍNGUA PORTUGUESA | 7
c. Personagens:
d. Narrador:
e. Enredo:
Respostas
respondido por:
3
a resposta correta é a d)narrador
fabianamariacvk:
Presiso disso tb gente isso não é para assinalar é pra responder ♂️
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