2. (Unicamp 2019) Alguns pesquisadores falam sobre a necessidade de um "letramento racial", para "reeducar o indivíduo em uma perspectiva antirracista", baseado em fundamentos como o reconhecimento de privilégios, do racismo como um problema social atual, não apenas legado histórico, e a capacidade de interpretar as práticas racializadas. Ouvir é sempre a primeira orientação dada por qualquer especialista ou ativista: uma escuta atenta, sincera e empática. Luciana Alves, educadora da Unifesp, afirma que "uma das principais coisas é atenção à linguagem. A gente tem uma linguagem sexista, racista, homofóbica, que passa pelas piadas e pelo uso de termos que a gente já naturalizou. ‘A coisa tá preta’, ‘denegrir’, ‘serviço de preto’... Só o fato de você prestar atenção na linguagem já anuncia uma postura de reconstrução. Se o outro diz que tem uma carga negativa e ofensiva, acredite".
(Adaptado de Gente branca: o que os brancos de um país racista podem fazer pela igualdade além de não serem racistas. UOL, 21/05/2018)
2 |LÍNGUA PORTUGUESA
Segundo Luciana Alves, para combater o racismo e mudar de postura em relação a ele, é fundamental:
a. Ouvir com atenção os discursos e orientações de especialistas e ativistas.
b. Reconhecer expressões racistas existentes em práticas naturalizadas.
c. Passar por um "letramento racial" que dispense o legado histórico.
d. Prestar atenção às práticas históricas e às orientações da educadora.
e. Estudar detalhadamente a história e a formação do Brasil.
Respostas
Resposta:
Alternativa b
Explicação:
As expressões da linguagem consiste em um tipo de violência simbólica.
?Meia tigela?
Os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas ?metas?. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de ?meia tigela?, que hoje significa algo sem valor e medíocre.
?Mulata?
Na li?ngua espanhola, referia-se ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento com e?gua. A enorme carga pejorativa é ainda maior quando se diz ?mulata tipo exportação?, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. A palavra remete à ideia de sedução, sensualidade.
?Cor do pecado?
Utilizada como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. A ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na religião, como a brasileira.
?Ter um pé na cozinha?
Forma racista de falar de uma pessoa com origem negra. Infeliz recordação do período da escravidão em que o único lugar permitido às mulheres negras era a cozinha da casa grande. Uma realidade ainda longe de mudar no Brasil.
?Cabelo ruim?
Fios ?rebeldes?, ?cabelo duro?, ?carapinha?, ?mafuá?, ?piaçava? e outros tantos derivados depreciam o cabelo afro. Por vários séculos, causaram a negação do próprio corpo e a baixa autoestima entre as mulheres negras sem o ?desejado? cabelo liso. Nem é preciso dizer o quanto as indústrias de cosméticos, muitas originárias de países europeus, se beneficiaram do padrão de beleza que excluía os negros.
?Não sou tuas negas?
A mulher negra como ?qualquer uma? ou ?de todo mundo? indica a forma como a sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo. Escravas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo.
?Denegrir?
Sinônimo de difamar, possui na raiz o significado de ?tornar negro?, como algo maldoso e ofensivo, ?manchando? uma reputação antes ?limpa?.
?A coisa tá preta?
A fala racista se reflete na associação entre ?preto? e uma situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa.
?Mercado negro?, ?magia negra?, ?lista negra? e ?ovelha negra?
Entre outras inúmeras expressões em que a palavra ?negro? representa algo pejorativo, prejudicial, ilegal.
?Inveja branca?
A ideia do branco como algo positivo é impregnada na expressão que reforça, ao mesmo tempo, a associação entre preto e comportamentos negativos.