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Os indígenas participaram da resistência à ditadura. Eles também foram massacrados, manipulados e perderam terras e direitos. De acordo com o coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro Dallari, o relatório que vai ser divulgado no próximo dia 10 vai ter um capítulo específico sobre essa questão.
De 1974 a 1983, grandes obras na Amazônia serviram de pretexto para o genocídio desse e de outros povos indígenas, por meio de bombardeios, chacinas e destruição de locais sagrados, de acordo com reportagem da National Geographic.
Na segunda metade de 1974, o povo kinja se reunia na aldeia Kramna Mudî para uma celebração típica dos indígenas waimiri atroari, na margem do rio Alalaú. “Pelo meio-dia, um ronco de avião ou de helicóptero se aproximou. O pessoal saiu da maloca para ver. A criançada estava toda no pátio para ver. O avião derramou como que um pó. Todos menos um foram atingidos e morreram”, escreveu o indigenista Egydio Schwade, um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário. Quando os aldeados do Norte chegaram à aldeia, depararam-se com ao menos 33 mortos.
Segundo a matéria da National Geographic, esse massacre também foi contado, no idioma karib, pelo sobrevivente durante uma audiência judicial do Ministério Público Federal (MPF) realizada na terra indígena (TI), em 28 de fevereiro deste ano.
Após os indígenas serem atingidos pelo veneno, ficando paralisados e morrendo logo em seguida, homens brancos invadiram a aldeia por terra, munidos de facas e revólveres.
Houve também bombardeios em ataques aéreos, chacinas a tiros, esfaqueamentos, decapitações e destruição de locais sagrados por parte dos militares naquela reserva a partir de 1974. O objetivo do governo era ocupar 2 milhões de quilômetros quadrados na Amazônia.
O genocídio dos waimiri atroari pela ditadura militar estendeu-se entre as décadas de 1960 e 1980, durante três grandes projetos dentro desta terra indígena (TI): a abertura da BR-174, a Manaus-Boa Vista; a construção da hidrelétrica de Balbina; e a atuação de mineradoras e garimpeiros interessados em explorar as jazidas em seu território.
A Comissão Nacional da Verdade estima que ao menos 8.350 indígenas tenham sido assassinados entre 1946 e 1988. As investigações apontam dois períodos distintos em se tratando de violações aos povos indígenas. Antes de dezembro de 1968, os massacres se davam mais pela omissão do Estado. Após o Ato Institucional 5 (AI-5), o maior responsável pelos homicídios foi o regime militar.
A violência do regime militar contra os indígenas também é tema de um livro escrito pelo jornalista Rubens Valente, chamado ‘Os Fuzis e as Flechas – História de Sangue e Resistência Indígena na Ditadura’. O livro descreve centenas de mortes de indígenas durante a ditadura militar no Brasil, a partir de uma longa pesquisa, que incluiu 80 entrevistas.