• Matéria: Português
  • Autor: nicolasgh
  • Perguntado 5 anos atrás

Quem puder achar o texto "o restaurante" me ajudará muito

Respostas

respondido por: liviadopapaiueliton
1

Resposta:

-Quero lasanha.

 Aquele anteprojeto de mulher - quatro anos, no máximo, desabrochando na ultraminissaia - entrou decidido no restaurante. Não precisava de menu, não precisava de mesa, não precisava de nada. Sabia perfeitamente o que queria.

   Queria lasanha.

   O pai, que mal acabara de estacionar o carro em uma vaga de milagre, apareceu para dirigir a operação-jantar, que é, ou era, da competência dos senhores pais.

        - Meu bem, venha cá.

        - Quero lasanha.

        - Escute aqui, querida. Primeiro, escolhe-se a mesa.

        - Não, já escolhi. Lasanha.

        Que parada - lia-se na cara do pai. Relutante, a garotinha condescendeu em sentar-se primeiro, e depois encomendar o prato:

        - Vou querer lasanha.

        - Filhinha, por que não pedimos camarão? Você gosta tanto de camarão.

        - Gosto, mas quero lasanha.

        - Eu sei, eu sei que você adora camarão. A gente pede uma fritada bem bacana de camarão. Tá?

        - Quero lasanha, papai. Não quero camarão.

        - Vamos fazer uma coisa. Depois do camarão a gente traça uma lasanha. Que tal?

        - Você come camarão e eu como lasanha.

        O garçom aproximou-se, e ela foi logo instruindo:

        - Quero uma lasanha.

        O pai corrigiu:

        - Traga uma fritada de camarão pra dois. Caprichada.

        A coisinha amuou. Então não podia querer? Queriam querer em nome dela? Por que é proibido comer lasanha? Essas interrogações também se liam no seu rosto, pois os lábios mantinham reserva. Quando o garçom voltou com os pratos e o serviço, ela atacou:

        - Moço, tem lasanha?

        - Perfeitamente, senhorita.

        O pai, no contra-ataque:

        - O senhor providenciou a fritada?

        - Já, sim, doutor.

        - De camarões bem grandes?

        - Daqueles legais, doutor.

        - Bem, então me vê um chinite, e pra ela... O que é que você quer, meu anjo?

        - Uma lasanha.

        - Traz um suco de laranja pra ela.

        Com o chopinho e o suco de laranja, veio a famosa fritada de camarão, que, para surpresa do restaurante inteiro, interessado no desenrolar dos acontecimentos, não foi recusada pela senhorita. Ao contrário, papou-a, e bem. A silenciosa manducação atestava, ainda uma vez, no mundo, a vitória do mais forte.

        - Estava uma coisa, heim? - comentou o pai, com um sorriso bem alimentado.

        - Sábado que vem, a gente repete... Combinado?

        - Agora a lasanha, não é, papai?

        - Eu estou satisfeito. Uns camarões tão geniais! Mas você vai comer mesmo?

        - Eu e você, tá?

        - Meu amor, eu...

        - Tem de me acompanhar, ouviu? Pede a lasanha.

        O pai baixou a cabeça, chamou o garçom, pediu. Aí, um casal, na mesa vizinha, bateu palmas. O resto da sala acompanhou. O pai não sabia onde se meter. A garotinha, impassível. Se, na conjuntura, o poder jovem cambaleia, vem aí, com força total, o poder ultra-jovem.

Explicação:

é esse texto?


nicolasgh: vlw
liviadopapaiueliton: de nada:)
respondido por: evelyndoamaral35
0

Resposta:

Texto 1 No Restaurante Carlos Drummond de Andrade – Quero lasanha. Aquele anteprojeto de mulher – quatro anos, no máximo, desabrochando na ultraminissaia – entrou decidido no restaurante. Não precisava de menu, não precisava de mesa, não precisava de nada. Sabia perfeitamente o que queria. Queria lasanha. O pai, que mal acabara de estacionar o carro em uma vaga de milagre, apareceu para dirigir a operação-jantar, que é, ou era, da competência dos senhores pais. – Meu bem, venha cá. – Quero lasanha. – Escute aqui, querida. Primeiro, escolhe-se a mesa. – Não, já escolhi. Lasanha. Que parada – lia-se na cara do pai. Relutante, a garotinha condescendeu em sentar-se primeiro, e depois encomendar o prato. – Vou querer lasanha. – Filhinha, por que não pedimos camarão? Você gosta tanto de camarão. – Gosto, mas quero lasanha. – Eu sei, eu sei que você adora camarão. A gente pede uma fritada bem bacana de camarão. Tá? – Quero lasanha, papai. Não quero camarão. – Vamos fazer uma coisa. Depois do camarão a gente traça uma lasanha. Que tal? – Você come camarão e eu como lasanha. O garçom aproximou-se, e ela foi logo instruindo: – Quero uma lasanha. O pai corrigiu: – Traga uma fritada de camarão para dois. Caprichada. A coisinha amuou. Então não podia querer? Queriam querer em nome dela? Por que é proibido comer lasanha? Essas interrogações também se liam no seu rosto, pois os lábios mantinham reserva. Quando o garçom voltou com os pratos e o serviço, ela atacou: – Moço, tem lasanha? – Perfeitamente, senhorita. O pai, no contra-ataque: – O senhor providenciou a fritada? – Já, sim, doutor. – De camarões bem grandes? – Daqueles legais, doutor. – Bem, então me vê um chinite, e pra ela... O que você quer, meu anjo? – Uma lasanha. – Traz um suco de laranja pra ela. Com o chopinho e o suco de laranja, veio a famosa fritada de camarão, que, para surpresa do restaurante inteiro, interessado no desenrolar dos acontecimentos, não foi recusada pela senhorita. Ao contrário, papou-a, e bem. A silenciosa manducação atestava, ainda uma vez, no mundo, a vitória do mais forte. – Estava uma coisa, hem? – comentou o pai, com um sorriso bem alimentado. – Sábado que vem, a gente repete... Combinado? – Agora a lasanha, não é, papai? – Eu estou satisfeito. Uns camarões geniais! Mas você vai comer mesmo? – Eu e você, tá? – Meu amor, eu... – Tem de me acompanhar, ouviu? Pede a lasanha. – O pai baixou a cabeça, chamou o garçom, pediu. Aí, um casal, na mesa vizinha, bateu palmas. O resto da sala acompanhou. O pai não sabia onde se meter. A garotinha, impassível. Se, na conjuntura, o poder jovem cambaleia, vem aí, com força total, o poder ultrajovem. Carlos Drummond de Andrade. O poder ultrajovem. Em: Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1988. p. 1744. A crônica tem um foco narrativo em terceira pessoa. Mesmo assim percebemos certos sentimentos desse narrador não identificado em relação às personagens e aos fatos narrados, sobretudo através da ironia de sua linguagem. Por que o narrador se refere à personagem principal da crônica como “aquele anteprojeto de mulher”? (baseie sua respostas em elementos do segundo parágrafo do texto).

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