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A instalação do sistema colonial hispânico na América foi marcada por um processo massivo de eliminação de boa parte das populações indígenas que aqui viviam. No entanto, conforme assinalado pelo poeta chileno Pablo Neruda, a “cruz”, a “espada” e a “fome” não foram suficientes para encerrar as resistências da população indígena frente ao colonizador espanhol. No século XVIII, a infiltração das idéias iluministas e liberais só vieram a potencializar essa relação de conflito entre índios e espanhóis.
Ao mesmo tempo, não podemos criar uma idéia absoluta de que toda a população indígena era radicalmente contra o processo de dominação espanhola. Para ampliar a mão-de-obra disponível, muitos colonizadores empreendiam acordos com as lideranças indígenas locais. Os chamados caciques ou curacas, líderes máximos das comunidades indígenas, eram acionados pelos espanhóis para garantir a dominação sobre uma determinada população nativa.
Em troca do apoio ao colonizador espanhol, o curaca recebia parte dos impostos arrecadados ou a não obrigação do trabalho compulsório impostos pelos espanhóis. Dessa forma, os colonizadores vislumbravam manter as estruturas da dominação colonial sem a necessidade de empreender uma desgastante luta, que na verdade ia contra os interesses coloniais ao exigir gastos na organização de tropas ou na própria diminuição da mão-de-obra disponível.
No entanto, no ano de 1780, um líder curaca chamado José Gabriel Condorcanqui se indispôs aos interesses das elites metropolitanas. Dizendo ser descendente do lendário líder inca Túpac Amaru, conhecido por resistir ao início da dominação espanhola na América, Condorcanqui liderou uma insurreição indígena no Peru. Sendo uma grande exceção entre as populações indígenas da região, Condorcanqui estudou na Universidade de São Marcos (Lima, Peru) e lá teve contato com a história de Túpac Amaru e com ideais do pensamento iluminista.
Inspirado por essas idéias, Condorcanqui mudou seu nome para Túpac Amaru II e organizou um movimento emancipacionista que contou com o apoio da elite criolla. A rebelião começou em 1780, com a execução de um dos chefes espanhóis da administração colonial. Em pouco tempo, milhares de mestiços, indígenas, escravos e colonos empobrecidos decidiram não mais obedecer às exigências e tributos da Coroa Espanhola.
A popularização dos ideais da rebelião Túpac Amaru começava a representar uma ameaça real aos interesses das elites criollas. Com isso, o movimento acabou se desintegrando e perdendo sua articulação política. Túpac Amaru II foi preso e julgado pelas autoridades metropolitanas. Servindo de exemplo para as demais populações indígenas, Tupac teve a língua cortada e teve seu corpo arrastado por uma tropa de cavalos. Depois do episódio, outras lutas sangrentas resultaram na execução de 80 mil rebeldes