• Matéria: Português
  • Autor: AL1SSON7
  • Perguntado 5 anos atrás

Crônicas de Martha Medeiros

Era uma festa familiar, dessas que reúnem tios, primos, avós e
alguns agregados ocasionais que ninguém conhece direito. Jogada
no sofá, uma garota não estava lá muito sociável, a cara era de
enterro. Quieta, olhava para a parede como se ali fosse encontrar a
resposta para a pergunta que certamente martelava em sua
cabeça: o que estou fazendo aqui? De soslaio, flagrei a mãe dela
também observando a cena, inconsolável, ao mesmo tempo em que
comentava com uma tia: "Olha pra essa menina. Sempre com esta
cara. Nunca está feliz. Tem emprego, marido, filho. O que ela pode
querer mais?"
Nada é tão comum quanto resumirmos a vida de outra pessoa e
achar que ela não pode querer mais. Fulana é linda, jovem e tem
um corpaço, o que mais ela quer? Sicrana ganha rios de dinheiro, é
valorizada no trabalho e vive viajando, o que é que lhe falta?
Imaginei a garota acusando o golpe e confessando: sim,
quero mais. Quero não ter nenhuma condescendência com o tédio,
não ser forçada a aceitá-lo na minha rotina como um inquilino
inevitável. A cada manhã, exijo ao menos a expectativa de uma
surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa, por si só, já é um
entusiasmo.
Quero que o fato de ter uma vida prática e sensata não me
roube o direito ao desatino. Que eu nunca aceite a idéia de que a
maturidade exige um certo conformismo. Que eu não tenha medo
nem vergonha de ainda desejar.
Quero uma primeira vez outra vez. Um primeiro beijo em
alguém que ainda não conheço, uma primeira caminhada por uma
nova cidade, uma primeira estréia em algo que nunca fiz, quero

seguir desfazendo as virgindades que ainda carrego, quero ter
sensações inéditas até o fim dos meus dias.

Quero ventilação, não morrer um pouquinho a cada dia sufocada
em obrigações e em exigências de ser a melhor mãe do mundo, a
melhor esposa do mundo, a melhor qualquer coisa. Gostaria de me
reconciliar com meus defeitos e fraquezas, arejar minha biografia,
deixar que vazem algumas idéias minhas que não são muito
abençoáveis.
Queria não me sentir tão responsável sobre o que acontece ao
meu redor. Compreender e aceitar que não tenho controle nenhum
sobre as emoções dos outros, sobre suas escolhas, sobre as coisas
que dão errado e também sobre as que dão certo. Me permitir ser
um pouco insignificante.
E, na minha insignificância, poder acordar um dia mais tarde sem
dar explicação, conversar com estranhos, me divertir fazendo
coisas que nunca imaginei, deixar de ser tão misteriosa pra mim
mesma, me conectar com as minhas outras possibilidades de
existir. O que eu quero mais? Me escutar e obedecer o meu lado
mais transgressor, menos comportadinho, menos refém de reuniões
familiares, marido, filhos, bolos de aniversário e despertadores na
segunda-feira de manhã. E também quero mais tempo livre . E mais
abraços.Pois é, ninguém está satisfeito. Ainda bem.
Responda:
1)Qual o fato que dá origem a crônica acima?

2)O fato descrito na Crônica pode ser considerado algo
corriqueiro? Explique.

3) No trecho: “ De soslaio, flagrei a mãe dela também observando a
cena, inconsolável, ao mesmo tempo em que comentava com uma
tia”, qual o sentido da palavra soslaio?

4)A Crônica aborda os dilemas da vida humana, um deles que é
encontrar o equilíbrio em nosso lado mais comportado. Você
acredita que a sociedade tem influência naquilo que chamamos
personalidade das pessoas? Explique..

5)Em algumas vezes você se sente pressionado pela sociedade a
fazer coisas que não gostaria? Explique.

6)Outro aspecto da crônica é tratar questões da vida adulta. Diante
disso, quais são os seus desejos para sua vida adulta?

Respostas

respondido por: tamelacarvalhocristo
2

Resposta:

desculpa não sei a resposta estou só escrevendo pra ganhar pontos

respondido por: alexandrepinsetta
1

Resposta :

Sei não, mas é ponto grátis

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