Respostas
Resposta:
Três décadas de forte crescimento econômico, aliadas à rápida urbanização e a mudanças
nos padrões de consumo, fizeram com que a China trocasse o posto de maior exportador de
petróleo do Leste Asiático, posição que ostentava em meados da década de 1980, para o de
terceiro maior importador mundial do produto, atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão,
devendo ultrapassar este último em pouco tempo.1
A sede chinesa por recursos naturais não
ficou, todavia, restrita ao petróleo: entre 1990 e 2005, a participação combinada da China
no consumo mundial de alumínio, cobre, níquel e minério de ferro saltou de 7% para mais
de 20% (JIANHAI e ZWEIG, 2005).
Uma mudança tão drástica na posição relativa do país no mercado mundial de matérias-
primas não poderia deixar de afetar a maneira pela qual a China relaciona-se com outros
países. De fato, desde o governo de Deng Xiaoping no final dos anos 1970, a política externa
passou a ficar subordinada à estratégia de desenvolvimento do país. Evidencia esta nova rea-
lidade o fato de o Ministério da Defesa da China haver proclamado, em 1998, a segurança
energética como parte fundamental da segurança nacional, tornando as políticas econômica,
externa e de segurança interligadas (TULL, 2006). A China tornou-se, então, um grande
competidor por petróleo e outras matérias-primas, juntando-se a potências econômicas já
estabelecidas como os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão.
Dada a necessidade crescente de matérias-primas, as empresas chinesas, em sua maioria
estatais, passaram a correr o mundo atrás de contratos de exploração e fornecimento com
Estados produtores como a Bolívia (ouro), o Equador (petróleo), a Austrália (gás natural) e
as Filipinas (carvão), lançando mão de artifícios diversos como a oferta de crédito de longo
prazo, o cancelamento de dívidas, o oferecimento de ajuda humanitária e investimentos em
infraestrutura. Nesta perspectiva, a inserção na África,2
continente rico em matérias-primas,
tornou-se uma extensão natural.
As relações históricas entre a China e a África
Na realidade, as ligações, sobretudo comerciais, entre a China e a África têm raízes seculares.
Tais laços foram aprofundados após a Revolução Chinesa (1949), período no qual o objetivode exportar a revolução coincidiu com a proliferação de movimentos de libertação nacio-
nal pela África, dos quais muitos contaram com a ajuda bélica e humanitária de Pequim
(ANSHAN, 2007). O estreitamento das relações foi usado, também, como meio de impedir
a aproximação destes países com Taiwan e seu reconhecimento como nação independente.
Com a regra de um voto por país adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU),
o apoio africano foi importante para Pequim conseguir retirar de Taiwan, e em seu favor, o
status de legítimo representante do povo chinês.3
No final da década de 1980, a China tornou-se alvo de críticas da comunidade in-
ternacional após os fatos ocorridos na Praça Tiananmen. Com isto, buscou no mundo em
desenvolvimento o apoio para contrapor-se às críticas, num momento em que os próprios
países em desenvolvimento eram submetidos a pressões para democratizar seus regimes.
Sentindo seu poder ameaçado, não foram poucos os líderes africanos que se alinharam à
posição da China, país com o qual compartilhavam visões sobre democracia e direitos huma-
nos (TAYLOR, 2006). Nos anos seguintes, o apoio africano continuou sendo fundamental
para a frustração de mais de uma dezena de tentativas do Ocidente de penalizar a China
por conta da questão dos direitos humanos