• Matéria: Administração
  • Autor: andreiaronchini
  • Perguntado 9 anos atrás

Uma editora européia me pede que traduza poemas de autores estrangeiros sobre o
Brasil. Como sempre, eles falam da floresta Amazônica, uma floresta muito pouco real,
aliás. Um bosque poético, com “mulheres de corpos alvíssimos espreitando entre os
troncos das árvores, [...]”. Não faltam flores azuis, rios cristalinos e tigres mágicos.
Traduzo os poemas por dever de ofício, mas com uma secreta - e nunca realizada
- vontade de inserir ali um grãozinho de realidade. Nas minhas idas (nem tantas)
ao exterior, onde convivi, sobretudo, com escritores ou professores e estudantes
universitários - portanto, gente razoavelmente culta - eu fui invariavelmente surpreendida
com a profunda ignorância a respeito de quem, como e o que somos. - A senhora é
brasileira? Comentaram espantados alunos de uma universidade americana famosa. -
Mas a senhora é loira!
Depois de ler, num congresso de escritores em Amsterdã, um trecho de um dos meus
romances traduzido em inglês, ouvi de um senhor elegante, dono de um antiquário
famoso, que segurou comovido minhas duas mãos: - Que maravilha! Nunca imaginei
que no Brasil houvesse pessoas cultas! Pior ainda, no Canadá alguém exclamou
incrédulo: Escritora brasileira? Ué, mas no Brasil existem editoras? A culminância foi a
observação de uma crítica berlinense, num artigo sobre um romance meu editado por lá,
acrescentando, a alguns elogios, a grave restrição: “porém não parece um livro brasileiro,
pois não fala nem de plantas nem de índios nem de bichos”.
Diante dos três poemas sobre o Brasil, esquisitos para qualquer brasileiro, pensei mais
uma vez que esse desconhecimento não se deve apenas à natural (ou inatural) alienação
estrangeira quanto ao geograficamente fora de seus interesses, mas também a
culpa é nossa. Pois o que mais exportamos de nós é o exótico e o folclórico.
Em uma feira do livro de Frankfurt, no espaço brasileiro, o que se via eram livros (não
muito bem arrumados), muita caipirinha na mesa, e televisões mostrando carnaval,
futebol, praia e mato. E eu, mulher essencialmente urbana, escritora das geografias
interiores de meus personagens eróticos, me senti tão deslocada quanto um macaco
em uma loja de cristais. Mesmo que tentasse explicar, ninguém acreditaria que eu era
tão brasileira quanto qualquer negra de origem africana vendendo acarajé nas ruas de
Salvador. Porque o Brasil é tudo isso. E nem a cor de meu cabelo e olhos, nem meu
sobrenome, nem os livros que li na infância, nem o idioma que falei naquele tempo além
do português, me fazem menos nascida e vivida nesta terra de tão surpreendentes
misturas: imensa, desaproveitada, instigante e (por que ter medo da palavra?)
maravilhosa.

(LUFT, Lya. Pensar e transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2005, p.49-51.)

]1-[/b] Assinale a alternativa em que a palavra em destaque está INCORRETAMENTE
interpretada.

a) “A culminância foi a observação de uma crítica berlinense (...)”. (AUGE)
b) “Pois o que mais exportamos de nós é o exótico e o folclórico.” (PRIMITIVO)
c) “... mulheres de corpos alvíssimos espreitando entre os troncos das árvores (...)”
(OCULTANDO-SE)
d) “(...) esse desconhecimento não se deve apenas à natural (ou inatural) alienação
estrangeira (...)” (ÊXTASE)
e) "imensa, desaproveitada, isntigante e (por que ter medo da palavra?) maravilhosa' (estimulante).

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