• Matéria: Artes
  • Autor: raianegabrielle964
  • Perguntado 5 anos atrás

Japonismo é o termo utilizado para designar a influencia da cultura japonesa na cultura ocidental, mantendo sua identidade cultural. Nas histórias em quadrinhos, por exemplo, podemos reconhecer a identidade japonesa pois *


Anônimo: num entendi a pergunta
umaunicorniabr: tbm nn...
umaunicorniabr: o q vc quis dizer com isso,Raiane?...nn consegui compreender.

Respostas

respondido por: umaunicorniabr
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Resposta:

Durante o ano de 2008, discursos sobre a "cultura japonesa" ganharam atenção considerável tanto das autoridades políticas como dos meios de comunicação devido às comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil. Uma das principais consequências disso foi a difusão e a celebração de vários símbolos e virtudes considerados "típicos" da cultura japonesa. Imagens da bandeira japonesa (hinomaru) eram exibidas em revistas, jornais e na televisão. O hino japonês (kimigayo), presente em todos os eventos comemorativos, talvez nunca tenha sido tocado com tanta frequência. E a visita de um membro da família imperial, o príncipe herdeiro Naruhito, serviu para reforçar o clima de encantamento com a tradição japonesa. Além disso, as comemorações eram invariavelmente acompanhadas de louvores às virtudes "japonesas" do trabalho e do estudo, que teriam sido a causa da ascensão social dos imigrantes japoneses na sociedade brasileira.

No entanto, esse discurso celebratório começa a apresentar sérios problemas quando examinado mais cuidadosamente. Tomemos, por exemplo, o caso do hinomaru e do kimigayo. Poucos no Brasil chegaram a lembrar que ambos só foram oficializados como a bandeira e o hino japoneses em 1999 (até então seu uso não tinha nem reconhecimento nem obrigatoriedade legal), através de uma medida polêmica duramente criticada por alguns dos principais intelectuais japoneses e por diversas minorias, como coreanos e chineses, que veem na bandeira e no hino um símbolo do colonialismo e da violência perpetrada pelo Japão entre o fim do século XIX e a primeira metade do século XX (Takahashi, 2005; Ukai, 2005). Também não se mencionou que a família imperial japonesa depois da Segunda Guerra Mundial foi construída e legitimada mediante a colaboração entre os governantes japoneses e a ocupação norte-americana (1945-1952) como mecanismo de acomodação dos interesses das elites japonesas na transição do pós-guerra (Dower, 1999, pp. 319-45; Harootunian e Sakai, 1999, p. 604; Yoshimi, 2000). Não nos esqueçamos de que a tão celebrada ética da educação e do trabalho é muito menos uma tradição vinda de tempos imemoriais, do que um programa político voltado para a implantação do sistema capitalista e da centralização estatal durante a segunda metade do século XIX (Mita, 1992, pp. 224-247). Essa ética serviu, ademais, como instrumento de dominação na colonização das regiões de Okinawa, Hokkaido, Coreia e Taiwan, onde os povos nativos eram obrigados a trabalhar para abastecer o mercado japonês, e estudar em escolas japonesas para esquecer seus costumes "bárbaros", tornando-se súditos dignos de pertencer ao "Grande Império Japonês" (Oguma, 1998).

O modo como esses aspectos mais problemáticos foram estrategicamente evitados durante as comemorações do centenário parece confirmar a tese de que não apenas os imigrantes japoneses e seus descendentes, mas também a sociedade brasileira em geral tende a adotar uma postura conservadora e acrítica em relação à "cultura japonesa" (Maeyama, 2001, 5-11).1

Creio que uma das principais razões para isso é a ausência no Brasil de uma discussão consciente das transformações e das contradições sociais da sociedade japonesa, e o desconhecimento dos debates entre os principais pensadores sociais do cenário intelectual japonês.2 Como resultado, as ideias que predominam no Brasil sobre a cultura japonesa tendem a reificá-la, apresentando-a como uma totalidade homogênea, imutável e exótica, sem atentar para os sérios conflitos políticos que este tipo de perspectiva oculta.

Por isso, o objetivo principal deste artigo é fazer um esboço dos debates em torno da noção de cultura japonesa, bem como de seu contexto histórico, a fim de possibilitar uma compreensão mais crítica e informada. Com base neste panorama, concluo este trabalho com uma breve reflexão sobre o modo como a cultura japonesa vem sendo tratada até agora no Brasil, e as consequências que o discurso apologético atual traz tanto para a sociedade brasileira como para a sociedade japonesa.

  • Espero ter ajudado!<33
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