• Matéria: Português
  • Autor: nacdavi
  • Perguntado 5 anos atrás

CANTO IV

[...]

“Mas um velho d’aspeito venerando,

Que ficava nas praias, entre a gente,

Postos em nós os olhos, meneando

Três vezes a cabeça, descontente,

A voz pesada um pouco alevantando,

Que nós no mar ouvimos claramente,

C’um saber só de experiências feito,

Tais palavras tirou do experto peito:


”Ó glória de mandar! Ó vã cobiça

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

C’uma aura popular, que honra se chama!

Que castigo tamanho e que justiça

Fazes no peito vão que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles experimentas!


“Dura inquietação d’alma e da vida,

Fonte de desamparos e adultérios,

Sagaz consumidora conhecida

De fazendas, de reinos e de impérios:

Chamam-te ilustre, chamam-te subida,

Sendo dina de infames vitupérios;

Chamam-te Fama e Glória soberana,

Nomes com quem se o povo néscio engana!


”A que novos desastres determinas

De levar estes reinos e esta gente?

Que perigos, que mortes lhe destinas

Debaixo dalgum nome preminente?

Que promessas de reinos, e de minas

D’ouro, que lhe farás tão facilmente?

Que famas lhe prometerás? que histórias?

Que triunfos, que palmas, que vitórias?


“Mas ó tu, geração daquele insano,

Cujo pecado e desobediência,

Não somente do reino soberano

Te pôs neste desterro e triste ausência,

Mas inda doutro estado mais que humano

Da quieta e da simples inocência,

Idade d’ouro, tanto te privou,

Que na de ferro e d’armas te deitou:


“Já que nesta gostosa vaidade

Tanto enlevas a leve fantasia,

Já que à bruta crueza e feridade

Puseste nome esforço e valentia,

Já que prezas em tanta quantidades

O desprezo da vida, que devia

De ser sempre estimada, pois que já

Temeu tanto perdê-la quem a dá:


“Não tens junto contigo o Ismaelita,

Com quem sempre terás guerras sobejas?

Não segue ele do Arábio a lei maldita,

Se tu pela de Cristo só pelejas?

Não tem cidades mil, terra infinita,

Se terras e riqueza mais desejas?

Não é ele por armas esforçado,

Se queres por vitórias ser louvado?


“Deixas criar às portas o inimigo,

Por ires buscar outro de tão longe,

Por quem se despovoe o Reino antigo,

Se enfraqueça e se vá deitando a longe?

Buscas o incerto e incógnito perigo

Por que a fama te exalte e te lisonge,

Chamando-te senhor, com larga cópia,

Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia?


“Ó maldito o primeiro que no mundo

Nas ondas velas pôs em seco lenho,

Dino da eterna pena do profundo,

Se é justa a justa lei, que sigo e tenho!

Nunca juízo algum alto e profundo,

Nem cítara sonora, ou vivo engenho,

Te dê por isso fama nem memória,

Mas contigo se acabe o nome e glória.


“Trouxe o filho de Jápeto do Céu

O fogo que ajuntou ao peito humano,

Fogo que o mundo em armas acendeu

Em mortes, em desonras (grande engano).

Quanto melhor nos fora, Prometeu,

E quanto para o mundo menos dano,

Que a tua estátua ilustre não tivera

Fogo de altos desejos, que a movera!


“Não cometera o moço miserando

O carro alto do pai, nem o ar vazio

O grande Arquiteto co’o filho, dando

Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio.

Nenhum cometimento alto e nefando,

Por fogo, ferro, água, calma e frio,

Deixa intentado a humana geração.

Mísera sorte, estranha condição!”


*****PERGUNTA: Vasco da Gama e o velho do Restelo são figuras com visões opostas a respeito da expansão marítima. Qual é a importância da figura do Velho do Restelo para a Narrativa?

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respondido por: kauafelypesilvaolive
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Explicação:

N tem foto? Vc quem q mandar a foto

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