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Continuando a maratona Fernando Sabino, falarei agora de um livro que eu adorei e que em bem pouco tempo já se tornou uma de minhas leituras favoritas. Trata-se do surreal A nudez da verdade, cujas 84 páginas foram publicadas pela Editora Ática. E digo surreal não porque a história não possa ter acontecido de verdade, mas sim porque os fatos vão se amontoando com uma tal velocidade que deixa o protagonista da história e o leitor aflitos e surpresos com o desenrolar da narrativa.
Esta obra conta uma história de infortúnio ocorrida com Telmo Proença, um homem simples casado com Carla e que começa a ter sua vida alterada por uma coincidência. Ao encontrar seu amigo Eliseu no aeroporto fazendo algazarra junto a um grupo de músicos, Telmo acaba por conhecer Marialva, por quem logo se enamora. Decidido a fugir pela primeira vez do script rotineiro que é sua vida, o protagonista se manda para o apartamento de Marialva e com ela vive uma noite de amor. Ao acordar pela manhã, Telmo acidentalmente se vê trancado pelo lado de fora da residência, totalmente nu e sem chances de reverter sua nova e incômoda situação, o que o leva a se deparar sem querer com os vizinhos do prédio, e aí começa uma confusão que vai levar Telmo e o leitor a uma correria sem fim. Envergonhado e aflito por estar da mesma maneira com que Adão e Eva vieram ao mundo, Telmo foge prédio abaixo e ganha as ruas da cidade provocando uma série sem fim de confusões e mal entendidos que o levarão a ser perseguido pelos moradores e pela polícia do Rio de Janeiro. Este livro me lembrou ligeiramente os infortúnios de Gregor Samsa no genial A metamorfose, do também genial Franz Kafka. Digo ligeiramente pois o único ponto de aproximação que encontrei foi o de que os protagonistas em ambas narrativas se deparam com situações difíceis que só tendem a piorar ao longo da história, como se fossem bolas de uma avalanche que se tornam gigantes a partir do acúmulo de material arrastado. A aflição progressiva desses personagens leva o leitor a se solidarizar com eles e por tabela, com o livro. Sendo escrito com uma proposta muito mais leve e curta que a obra-prima de Kafka, Sabino ganha através do humor surreal a atenção e o carinho de quem o lê. Mais um livro bacana que tive o prazer de abrir e de compartilhar. E de recomendar, claro.