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Explicação:“Estávamos conversando, Jaime Wright e eu, sobre as consequências do golpe militar, quando um disse para o outro, não sei mais quem tomou a palavra: – Isso tudo vai ser esquecido na próxima geração, como foi esquecido tudo o que o Getúlio praticou no tempo dele - e foram horrores" (Dom Paulo Evaristo Arns).
O general Newton Cruz, mandatário e executor da repressão, tem a melhor frase, quando perguntado sobre esse tempo: “Ditadura militar? Que ditadura militar... se a própria sociedade civil pediu”? Como requerer dignidade e solidariedade ao regime autoritário que se entregara sem medo ou respeito às práticas mais bárbaras registradas na história da humanidade? Tortura, abdusão, banimento, sequestro político, assassinato e desaparecimento dissimulado – sem falar da limitação da liberdade de imprensa –, liberdade de ir e vir, que ocorria sob a justificativa de “livrar o Brasil do comunismo”.
O triunfo do poder totalitário parecia irrevogável em nosso país. Pessoas comuns ao regime, perseguidos por professarem ideologias de resistência, sequestrados, torturados, desde o golpe de 1964, experimentaram “tecnologias” de apagamento ideológico em laboratórios experimentais clandestinos, em numerosos casos com morte ou anulação física irreparáveis. Uma geração inteira (21 anos de fascismo) conheceu a força da sociedade autoritária, tendo à frente seus representantes armados com poder absoluto sobre a nação. Nenhuma instituição, civil ou militar, podia dizer-se politicamente neutra.
Na linha de frente no confronto com a ditadura, apresentavam-se aos presidentes militares, no regime de exceção, democracia e liberdades civis cerceadas, para reclamar direitos de pessoas e famílias atingidas pelo rolo compressor da polícia política da ditadura, encastelada no DOPS, no DOI-Codi, no SNI, no CENIMAR, na Polícia Federal e na Polícia Civil. Comandados diretamente dos salões presidenciais, da sede do governo federal, e dos governos estaduais, estas organizações de policiamento ideológico eram também reforçadas por confrarias e grupos de extermínio brotados na sociedade civil. Esquadrões da morte atuavam de norte a sul, coniventemente.
Ando de ônibus frequentemente. Preparando-me para este artigo, ouvia dois idosos comentando as passeatas reivindicatórias dos últimos dias, em minha cidade, enquanto associavam assassinatos, assaltos à mão armada, no mesmo plano: “A ditadura precisa voltar”. Um pastor pentecostal, líder de juventude evangélica, proclama seu saudosismo autoritário: “Durante o regime militar, tínhamos os melhores colégios, hospitais, casas populares; não havia maconha, crack, nem vagabundo te assaltando em cada esquina”.