POR FAVOR ME AJUDEM
COMO SEREMOS AMANHÃ?
Por mais modernos, avançados, biônicos, quânticos, incríveis que sejamos, não poderemos nos livrar
das emoções humanas. Estar aberto às novidades é estar vivo. Fechar-se a elas é morrer estando vivo. Um
certo equilíbrio entre as duas atitudes ajuda a nem ser antiquado demais nem ser super avançadinho,
correndo o perigo de confusões ou ridículo.
Sempre me fascinaram as mudanças – às vezes avanço, às vezes retorno à caverna. Hoje andam
incrivelmente rápidas, atingindo nossos usos e costumes, ciência e tecnologia, com reflexos nas mais
sofisticadas e nas menores coisas com que lidamos. Nossa visão de mundo se transforma, mas penso que
não no mesmo ritmo; então de vez em quando nos pegamos dizendo, como nossas mães ou avós tanto
tempo atrás: “Nossa! Como tudo mudou!”.
Nos usos e costumes a coisa é séria e nos afeta a todos: crianças muito precocemente sexualizadas
pela moda, pela televisão, muitas vezes por mães alienadas, por teorias abstrusas e mal aplicadas. Se antes
namorar era difícil, o primeiro batom rosa-claro aos 15 anos, e não havia pílula anticoncepcional, hoje talvez
amar ande descomplicado demais. (...) Casamentos ( isto é, uniões ditas estáveis, morar juntos) estão sendo
atropelados pela incapacidade de fortalecer laços, construir juntos com alguma paciência. Não sou de
sermos infelizes juntos pelo resto da vida, mas de tentarmos um pouco mais. (...)
Na saúde, acho que muito melhorou. Sou de uma infância sem antibióticos. A gente sobrevivia sob os
cuidados de mãe, pai, avó, médico de família, aquele que atendia do parto à cirurgia mais complexa para
aqueles dias. Dieta, que hoje se tornou obsessão, era impensável, sobretudo para crianças, e eu pré-
adolescente gordinha, não podia nem falar em “regime” que minha mãe arrancava os cabelos e o médico
sacudia a cabeça: “Nem pensar”.
Em breve estaremos menos doentes: células-tronco e chips vão nos consertar de imediato, ou evitar os
males. Teremos de descobrir o que fazer com tanto tempo de vida a mais que nos será concedido. Nada de
aposentadoria precoce, chinelo e pijama ( isso ainda se usa?). Mas aprender sempre. Interrogar o mundo,
curtir a natureza, saborear a arte, viajar para Marte e outras rimas exóticas. Passear, criar, divertir-se, viajar
( talvez por teletransporte, feito o pó de pirlimpimpim da boneca Emília do nosso Monteiro Lobato, que
querem castrar).
Quem sabe nos mataremos menos, se as drogas forem controladas e a miséria extinta. Não creio em
igualdade, mas em dignidade para todos. Talvez haja menos guerras, porque de alguma forma seremos
menos violentos.
Leremos unicamente livros eletrônicos ou algo ainda mais moderno. As vastas bibliotecas de papel
serão museus, guardando o cheiro da minha infância, quando – se eu aborrecia minha mãe com mil
perguntas – meu pai me sentava em uma dessas poltronas de couro e botava no meu colo alguma
enciclopédia com figuras de flores, frutas, bichos, protegida por papel de seda amarelado. Inesquecível, e
delicioso, sobretudo quando chovia.
As crianças terão outras memórias, outras brincadeiras, outras alegrias; os adultos, novas sensações e
possibilidades – mas as emoções humanas, estas eu penso que vão demorar a mudar. Todos vão continuar
querendo mais ou menos o mesmo: afeto, presença, sentido para a vida, alegria. Desta, por mais modernos,
avançados, biônicos, quânticos, incríveis, não poderemos esquecer. Ou não valerá a pena nem um só ano
a mais, saúde a mais, brinquedinhos a mais. Seremos uns robôs cinzentos e sem graça.
Lya Luft. Veja. São Paulo, 2 mar. 2011, p. 24.
Glossário: Abstrusas: obscuras, confusas.
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QUESTÃO 01. Este texto é um artigo de opinião. O artigo de opinião é um gênero textual que visa a
promover o debate de regras e ideias. Por isso constitui um texto argumentativo.
Que assunto é abordado nesse artigo?
A) A autora expõe suas ideias sobre as mudanças que ocorrem no mundo de hoje, comparando-as
com as de seu passado, e imagina como será o futuro.
B) A autora apenas expõe seus desejos, pois não consegue imaginar como será o futuro.
C) A autora não consegue expor, claramente, suas ideias sobre as mudanças que ocorrem no
mundo de hoje, mas imagina como será o futuro.
D) A autora expõe seus sonhos e critica as possíveis mudanças que ocorrerão no mundo.
QUESTÃO 02. Na abordagem do assunto, a função mais importante na produção desse artigo é:
A) Apresentar as ideias da autora sobre os fatos.
B) Informar o público leitor sobre as mudanças.
C) Narrar uma experiência pessoal.
D) Argumentar com base no que foi exposto.
Respostas
respondido por:
3
Resposta:
1-B
2-D
3-C
Explicação:
nnhahinhahi3r:
OBG
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