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A difusão da peste negra resultou na morte de milhares de pessoas. A doença espalhou-se por cidades e pelo campo, embora tivesse ação mais mortal nos grandes centros urbanos. Locais inteiros foram devastados, e o caos disseminou-se. Algumas regiões da Europa começaram a perseguir os doentes, isolando os que adoeciam para deixá-los morrer. Em alguns casos, os doentes eram executados.
O escritor italiano Giovanni Boccaccio presenciou a peste negra com seus próprios olhos e deixou relatos a respeito do que viu. Ele falou dos sintomas, do alto grau de contágio da doença, mas também abordou o desmoronamento da ordem com a disseminação da peste, pois muitas das autoridades foram contaminadas e, eventualmente, faleciam. O relato de Boccaccio concentra-se no que ele presenciou em Florença, cidade italiana.
Boccaccio também falou das diferentes reações que as pessoas tiveram no período de crise da doença. Ele relata que muitos procuraram o isolamento, evitando manter qualquer tipo de contato com pessoas, sobretudo os que estavam doentes. Aqueles que eram mais ricos e possuíam propriedades de campo, fugiram das cidades e foram abrigar-se nesses locais afastados.
Com o tempo, os médicos perceberam que o contato com os doentes e com os corpos dos mortos não deveria acontecer. Com isso, os doentes eram isolados e o contato com eles era limitado àqueles que realizavam o tratamento médico. Padres também mantinham contato com os acometidos, principalmente porque realizavam os ritos religiosos relacionados com o perdão dos pecados e o funeral.
Essa percepção de que o contato com os doentes contribuía para disseminar a doença fez com que as famílias parassem de se reunir à beira daqueles que estavam doentes. Reuniões de funerais também acabaram deixando de acontecer, e os que tratavam dos doentes passaram a utilizar roupas específicas, feitas de couro, para impedir que as secreções dos doentes penetrassem no tecido. Os médicos também passaram a utilizar uma máscara em forma de bico de pássaro, que era preenchido com ervas aromáticas. Acreditava-se que essas roupas evitavam a contaminação.
Os padres foram um dos grupos que mais sofreram, pois tinham contato direto com os doentes e com os corpos dos que faleciam. Como muitos dos padres viviam em mosteiros, locais que havia uma grande aglomeração de religiosos – muitos em idade avançada –, quando um padre contraía a doença, ela era rapidamente transmitida para outros.
A historiadora Tamara Quírico trouxe um relato de um cenóbio (residência de monges), em Florença, onde cerca de ¾ dos religiosos que habitavam lá faleceram em decorrência da peste|5|. Isso afetava os rituais funerários praticados, uma vez que não havia sacerdotes para atender a quantidade de mortos.
Além de não haver sacerdotes suficientes, não existiam coveiros, e os sepultamentos começaram a ser realizados em massa, isto é, em valas comuns, tamanha a quantidade de pessoas que morriam. Todavia, com a percepção de que os cadáveres também eram vetores de contaminação, muitos passaram a abandonar as práticas de sepultamento e começaram a incendiar os corpos dos falecidos. Até as roupas utilizadas pelos doenças e outros itens começaram a ser queimados.
Como já mencionado, muitas autoridades começaram a impor certo isolamento para evitar a propagação da doença. O cirurgião Guy de Chauliac, de Avignon, na França, falava que pais não podiam visitar seus filhos e vice-versa em razão do alto risco de contágio. Boccaccio relatou também que algumas obras para melhorar a limpeza e condições de higiene da cidade e a proibição da entrada de doentes também ocorreram em Florença.