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O molusco e o transatlântico (Fragmento 1)
Eu estava sentado no gerador PSK, durante o meu primeiro dia de testes de psico-kinese na Estação Espacial. Milhares de vezes eu já tinha plugado em mim aqueles eletrodos, tinha aplicado meus olhos àquela viseira, tinha fitado a linhazinha verde do osciloscópio até meus olhos lacrimejarem, tinha tentado pela simples força de minha mente influenciar a direção de um fluxo de elétrons que aquele mecanismo emitia, um por um, como uma torneira emite pingos numa noite de insônia. Meus resultados tinham obtido um índice tão alto na Terra que eles decidiram levar a experiência a cabo em órbita. Estão gastando milhões de dólares comigo, pensei, dólares emitidos pela Casa da Moeda americana, com a regularidade de um gerador PSK, só para provar que em condições atípicas de gravidade e magnetismo um brasileiro consegue dar um chega pra lá num elétron pela simples força de sua vontade. Falam que a fé move montanhas? Pois aqui estou eu, tentando mover um turbilhãozinho energético que mede um priquitilhonésimo de milímetro.
(Fragmento 2)
Quando acordei, tive consciência apenas da dor, e de que estava respirando. Abri os olhos. Vi um teto de metal. Eu ouvia vozes baixas à minha direita. As costelas, a cabeça e os braços doíam muito. Soergui o corpo para olhar ao meu redor, o que me deu pontadas nos músculos do pescoço. Vi uma fileira de camas ou beliches de metal que lembravam uma caserna ou um albergue. Do lado oposto do aposento, uma parede com armários de metal, lado a lado, como num vestiário esportivo. Os armários eram escaninhos abertos, espaçosos, e o aposento todo teria uns cem metros quadrados. No terceiro ou quarto beliche, Burns e Karavia conversavam. Tentei chamá-los, mas acho que não fiz ruído nenhum. Recostei-me para descansar, e acho que apaguei. Na vez seguinte em que acordei, Karavia estava ao meu lado.
— O que houve?
— Ainda não sabemos – disse ela.
Ergui o braço direito alguns centímetros. Tudo doía.
— O que eu tenho?
— Concussão nas costelas, eu acho, mas sem fraturas. MacKenna está pior do que você.
— Já voltamos?
— Voltamos? – Ela repetiu, parecendo não entender.
— Estamos em terra?
— Acho que não.
Tudo agora estava vindo, uma onda de terror, um medo póstumo pelo que não acontecera. Eu não morri, pensei. Podia ter morrido e não morri. Lembrei a linha do osciloscópio corcoveando como potro bravo, lembrei o blecaute, as quedas em todas as direções, a dor.
— Que lugar é este?
— Não sabemos – ela disse. — Acho que alguma coisa chocou-se com a Estação, e os sistemas todos colapsaram. Alguém nos trouxe para este lugar.
— Uma nave de socorro?
— Parece uma nave, pelo menos.
Virei a cabeça para o lado oposto. No beliche à minha esquerda alguém dormia, ressonando.
— Como estão os outros?
– MacKenna está mal, com fraturas. Você, Soheil e Kato mais ou menos feridos. Eu, Burns e Iuri não sofremos quase nada.
– Há quanto tempo estamos aqui?
– Não faço ideia. Acordei há umas seis horas.
TAVARES, Braulio. “O molusco e o transatlântico”. In: OLIVEIRA, Nelson (Org.). Fractais tropicais: o melhor da ficção científica brasileira. São Paulo: SESI-SP, 2018. p. 195.
TEXTO 2
Astronautas da Nasa levam experimento de alunos de SC
para ser testado no espaço
Estudantes de Xanxerê venceram competição em 2018. Eles fizeram filtro para que
astronautas tenham acesso a água potável sem gravidade.
O foguete Falcon9 decolou da base da Nasa nos Estados Unidos levando o resultado dos estudos e esforço de quatro alunos e três professores de Xanxerê, em Santa Catarina, na quinta-feira (25). O grupo é vencedor de uma competição nacional para a produção de um experimento para ser testado no espaço.
Roberta Debortoli e Renata Muller, as duas com 17 anos, Isabela Battistella e Ricardo Cenci, esses dois com 18, desenvolveram um filtro para que os astronautas tenham acesso à água potável em locais sem gravidade. A base do projeto é o filtro de barro brasileiro.
Os quatro jovens são estudantes do Ensino Médio técnico integrado em informática do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) do campus de Xanxerê. Eles se inscreveram em julho do ano passado na competição e desenvolveram o projeto entre agosto e dezembro do mesmo ano.
Renata Muller contou que ficou sabendo da competição em uma revista de divulgação científica. “Convidei amigos que gostavam da área e a gente conversou com professores, que nos ajudaram a inscrever a escola”, conta. [...]
CALDAS, Joana. G1 SC, 27 jul. 2019. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2019.
a) A que gênero pertence o texto 1? Justifique sua resposta com um elemento do texto.
b) A que gênero pertence o texto 2? Justifique sua resposta com um elemento do texto.
Respostas
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Resposta:
a) Ficção cientifica pois se refere ao espaço e os caramba
b) Narrativo pois esta em primeira pessoa
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