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O maior desafio da luta contra o racismo no Brasil é garantir que o aparato jurídico-legal que foi construído desde a redemocratização se enraíze na sociedade brasileira, tanto nas instituições públicas como privadas, e não haja retrocesso. A tradução da letra da lei em prática concreta é especialmente importante na área de segurança pública, haja vista o tratamento com frequência discriminatório dispensado pela polícia a populações mais pobres, na sua maioria compostas de pardos e negros. Também importante para o avanço da luta antirracismo é que um número maior de homens e mulheres negros, ainda hoje flagrantemente sub-representados, ocupem posições de poder no Executivo, Legislativo e Judiciário, nos três níveis de governo da Federação.
Essas foram as principais conclusões deste webinar, cujo objetivo foi discutir como e por que a questão racial ganhou destaque na agenda política do Brasil e o papel do movimento negro nesse processo. Como palestrantes convidados, dois jovens e talentosos cientistas sociais negros que acumulam significativa bagagem de pesquisa e atuação nessa área: os professores Flavia Rios (Universidade Federal Fluminense) e Luiz Augusto Campos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Além de refletir sobre o movimento antirracismo no Brasil no contexto da onda de protestos provocada pelo assassinato do afro-americano George Floyd por um policial branco de Cincinnati em 25 de maio de 2020, o evento também teve a intenção de divulgar o projeto Linhas do Tempo 1985-2018, recém-lançado pela Fundação FHC, que destaca a “Questão Racial”, entre outros temas que marcaram a construção da cidadania nesse período.
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Linhas do Tempo: uma evolução de democracia e dos direitos no Brasil
“O antirracismo brasileiro tem uma longa tradição que vem desde antes da abolição da escravatura, mas é principalmente a partir dos anos 1950 que ativistas, intelectuais e artistas começaram a atuar de forma mais articulada e consistente para desconstruir o mito de que nosso país seria uma democracia racial”, disse Flavia, que coordena a licenciatura em Ciências Sociais da UFF e o Grupo de Estudos Guerreiro Ramos (NEGRA).
Estudos sobre relações raciais e preconceito no Brasil
Rios citou especificamente estudos acadêmicos sobre as relações raciais e o preconceito racial no Brasil realizados pelo sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974) após sua chegada ao Brasil em 1938 para lecionar sociologia na recém-criada USP e, em décadas posteriores, pelos brasileiros Luiz Aguiar Costa Pinto (1920-2002), Florestan Fernandes (1920-1995), Octavio Ianni (1926-2004) e Fernando Henrique Cardoso (nascido em 1931).
“O importante trabalho desses e de outros pesquisadores e das instituições onde atuavam teve desdobramentos no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que passou a produzir dados sobre as desigualdades no Brasil de forma mais sistemática, construindo assim uma base para as futuras políticas públicas de enfrentamento do racismo a partir da crescente pressão exercida por grupos ligados ao movimento negro, com o apoio de ativistas de outras causas, entre eles trabalhadores e feministas”, disse.
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