• Matéria: Sociologia
  • Autor: crisr4521
  • Perguntado 5 anos atrás

Quais são as relações entre a pandemia de COVID-19 com a desigualdade social, racial 
e de gênero? 

Respostas

respondido por: amandapop2019
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Resposta:

As doenças não são entidades democráticas. Pelo contrário, elas têm incidências determinadas pela renda, pela idade, pelo gênero e pela raça. Diante da pandemia provocada pelo coronavírus (SARS2- CoV2), diversos segmentos da sociedade estão mais expostos e são identificados como grupos de risco, por conta de comorbidades específicas. A população negra, em sua diversidade, também é um dos grupos de risco, obviamente com gradações internas, variando tanto por comorbidades que atingem negras e negros em maior número, caso da hipertensão e da diabetes e, principalmente, a anemia falciforme, ou mesmo pela letalidade social, motivada por questões históricas, políticas e sociais estruturantes de nossa sociedade. A Abrasco ouviu pesquisadores e lideranças sociais para entender esse cenário e ser um canal dessas demandas.

Altair Lira, professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA (IHAC/UFBA) e integrante do Grupo Temático Racismo e Saúde (GT Racismo/Abrasco), aponta que o racismo estrutural dificulta a vida de negros e negras, e não seria diferente durante a pandemia “Estamos falando de um grupo que carrega dificuldades estruturais no seu viver, provocada por um racismo estrutural e estruturante, que começa desde a informação que chega a essa população até o acesso a exames para detecção do vírus, principalmente no que chamamos de casos suspeitos”.

Se as desigualdades sociais já são relevantes para o agravamento de outras doenças, no caso da Covid-19, o cenário não é diferente. Deivison Faustino, professor e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo e integrante do Instituto Amma Psique e Negritude, aponta que esse debate é urgente para as ações para lidar com o coronavírus: “ É preciso abrir um debate urgente sobre o quanto as desigualdades sociais agravam ou até impedem as possibilidades de prevenção de adoecimento e morte pela Covid-19. Graças a um histórico escravista de nossa sociedade, mas, sobretudo, por um racismo que se atualiza em descaso e violência de Estado contra a população negra, nós somos a maioria absoluta nas favelas, nos cortiços, nas palafitas, na população de rua nas cadeias, nos empregos precários”. Além da questão relacionada à moradia da população pobre no país, composta por uma maioria de negras e negros, Deivison aponta as dificuldades de se fazer quarentena: “Somos a maioria entre as pessoas que continuam pegando trem ou ônibus lotado para poder ir trabalhar. A pergunta que fica é: como fazer a quarentena nessas condições? Ele vai se isolar aonde? No seu barraco de dois metros quadrados, com filhos, avós, esposa? Como ele vai se cuidar? É urgente que as autoridades sanitárias e as autoridades políticas em geral desenvolvam estratégia de contenção da Covid-19 nesses grupos, ou a gente vai presenciar uma carnificina sem precedentes

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