ELENQUE DOIS ARGUMENTOS PARA APONTAR QUE NA CONDIÇÃO DAS
PESSOAS NEGRAS O ESTADO BRASILEIRO NO SÉCULO XXI É UM LEVIATÃ:
Respostas
As desigualdades acumuladas na experiência social da população negra3
, nos
processos de escolarização tem sido denunciadas há muitos anos pelo movimento social negro, por
estudiosos das relações raciais4
, e, mais recentemente, também pelas análises no âmbito de órgãos
governamentais no Brasil. São desigualdades graves e múltiplas, afetando a capacidade de inserção
da população negra na sociedade brasileira em diferentes áreas e comprometendo o projeto de
construção de um país democrático e com oportunidades para todos.
Indicadores como anos de estudo, reprovação, evasão, distorção idade-série, o
currículo escolar desenvolvido, o desempenho dos estudantes, a relação professor-aluno, a
qualidade do equipamento escolar e sua localização, entre outros, tem sido divulgados nos últimos
anos mostrando as disparidades entre brancos e negros no acesso, permanência e conclusão dos
percursos escolares. Isto que significa que as variáveis utilizadas nas análises dessas desvantagens
escolares se ampliaram e com elas nossa possibilidade de melhor entender o fenômeno das
desigualdades raciais na educação e os mecanismos escolares de discriminação existentes.
Por exemplo, na pesquisa sobre “Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições
de vida na década de 90”, Henriques (2001, p. 26) constatou que “55% do diferencial salarial entre
brancos e negros está associado à desigualdade educacional e outra parte da herança da
discriminação educacional infligida às gerações dos pais dos estudantes”, conforme segue
a escolaridade média de um jovem negro com 25 anos de idade gira em torno de 6,1 anos de
estudo; um jovem branco da mesma idade tem cerca de 8,4 anos de estudo. O diferencial é de
2,3 anos. Apesar da escolaridade de brancos e negros crescer de forma contínua ao longo do
século, a diferença de 2,3 anos de estudos entre jovens brancos e negros de 25 anos de idade é a
mesma observada entre os pais desses jovens. E, de forma assustadoramente natural, 2,3 anos é
a diferença entre os avós desses jovens. Além de elevado o padrão de discriminação racial
expresso pelo diferencial na escolaridade entre brancos e negros, mantém-se perversamente
estável entre as gerações