1. Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem
o passado, negligenciam o presente e temem o futuro.
Quando chegam ao fim, os coitados entendem, muito
tarde, que estiveram ocupados fazendo nada. 2. E
porque invocam a morte, não se pode provar que tenham
vivido uma longa existência. Sua imprudência
atormenta-os com sentimentos incertos, os quais
direcionam para as próprias coisas que temem: desejam
a morte porque ela os amedronta. 3. Não é argumento
para nos levar a pensar que desfrutam de uma longa vida
o fato de, muitas vezes, acharem que os dias são longos,
ou reclamarem de que as horas custam a passar até o
jantar, pois, se estão sem ocupação, sentem-se
abandona- dos e inquietam-se com o ócio sem saber
como dispor do mesmo ou acabar com ele. Assim,
desejam uma ocupação qualquer, e o período de tempo
entre dois afazeres é cansativo. E, certamente, é isso
que acontece quando o dia do combate dos gladiadores
é marcado, ou quando se aguarda qualquer outro evento
ou espetáculo: desejam pular os dias que ficam no meio.
4. Toda a espera por alguma coisa lhes é penosa, mas
aquele momento a que aspiram é breve e passa rápido,
tornando-se muito mais breve por sua própria culpa, pois
transitam de um prazer a outro sem permanecer em
apenas um desejo. Seus dias não são longos, mas
insuportáveis. Ao contrário, muito curtas lhes parecem as
noites que passam nos braços das prostitutas, ou
entregues a bebedeiras! 5. Talvez daí resulte o delírio
dos poetas que alimentam os erros dos homens com
histórias nas quais se mostra Júpiter, embevecido pelo
desejo do coito, duplicando a duração da noite. De que
se trata, senão de exaltar os nossos vícios, já que os
encontramos nos deuses e vemos na divindade um
exemplo de fraqueza? Podem estes não achar muito
curtas as noites pelas quais pagam tão caro? Perdem o
dia esperando a noite; a noite, com medo da aurora.
XIX
1. Refugia-te nestas coisas mais tranquilas, mais
seguras, mais elevadas! Pensas que é a mesma coisa
cuidar para que o transporte do trigo chegue livre da
fraude e da negligência dos transportadores, que seja
armazenado com cuidado nos armazéns, de modo que
não se aqueça ou que não se estrague pela umidade e
não fermente e, por último, que a medida e o peso se
encontrem de acordo com o combinado; pensas que tais
cuidados possam ser comparados com estes santos e
sublimes estudos que te revelarão a natureza de Deus,
seu prazer, sua condição, sua forma? Irão te indicar o
destino reservado à tua alma, onde nos colocará a
natureza quando formos libertos dos corpos? O que
sustenta os corpos mais pesados no meio deste mundo,
o que suspende os mais leves, leva o fogo às regiões
mais elevadas; indica aos astros a sua rotação e, assim,
muitos outros fenômenos ainda mais maravilhosos? 2.
Queres, uma vez abandonada a terra, voltar a mente a
essas coisas? Agora que o sangue ainda aquece e que
está pleno de vigor, devemos tender às coisas melhores.
Encontrarás, neste tipo de vida, o entusiasmo das
ciências úteis, o amor e a prática da virtude, o
esquecimento das paixões, a arte de viver e de morrer,
uma calma inalterável. 3. Certamente, miserável é a
condição de todas as pessoas ocupadas, mas ainda mais
miserável a daqueles que sobrecarregam a sua vida de
cuidados que não são para si, esperando, para dormir, o
sono dos outros, para comer, que o outro tenha apetite,
que caminham segundo o passo dos outros e que estão
sob as ordens deles nas coisas que são as mais
espontâneas de todas – amar e odiar. Se desejam saber
quão breve é a sua vida, que calculem quão exígua é a
parte que lhes toca.
SÊNECA. Sobre a brevidade da vida. Porto Alegre:
L&PM Pocket, 2010. p. 70-71; 80-81. In: GALLO, Sílvio.
Filosofia: experiência do pensamento (volume único).
Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: Scipione, 2013. (Página
167).
QUESTÔES
1- Por que, no início do texto, Sêneca critica os poetas?
O que você pensa a respeito dessa crítica
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entrega os teus caminhos ao senhor confia nele e ele tudo fará . os passos de um homem bom são confirmados pelo senhor e não se embaraçam com os negócios dessa vida
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