URGENTE
Versos inscritos numa taça feita de um crânio
Não, não te assustes: não fugiu o meu espírito
Vê em mim um crânio, o único que existe
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,
Tudo aquilo que flui jamais é triste.
Vivi, amei, bebi, tal como tu; morri;
Que renuncie e terra aos ossos meus
Enche! Não podes injuriar-me; tem o verme
Lábios mais repugnantes do que os teus.
Antes do que nutrir a geração dos vermes,
Melhor conter a uva espumejante;
Melhor é como taça distribuir o néctar
Dos deuses, que a ração da larva rastejante.
Onde outrora brilhou, talvez, minha razão,
Para ajudar os outros brilhe agora e;
Substituto haverá mais nobre que o vinho
Se o nosso cérebro já se perdeu?
Bebe enquanto puderes; quando tu e os teus
Já tiverdes partido, uma outra gente
Possa te redimir da terra que abraçar-te,
E festeje com o morto e a própria rima tente.
E por que não? Se as fontes geram tal tristeza
Através da existência-curto dia-,
Redimidas dos vermes e da argila
Ao menos possam ter alguma serventia.
Lord Byron
Glória moribunda
É uma visão medonha uma caveira?
Não tremas de pavor, ergue-a do lodo.
Foi a cabeça ardente de um poeta,
Outrora à sombra dos cabelos loiros,
Quando o reflexo do viver fogoso
Ali dentro animava o pensamento,
Esta fronte era bela. Aqui nas faces
Formosa palidez cobria o rosto...
Nessas órbitas-ocas, denegridas! -
Como era puro seu olhar sombrio!
Agora tudo é cinza. Resta apenas
A caveira que a alma em si guardava,
Como a concha no mar encerra a pérola,
Como a caçoula a mirra incandescente.
Tu outrora talvez desses-lhe um beijo;
Por que repugnas levantá-la agora?
Olha-a comigo! Que espaçosa fronte!
Quanta vida ali dentro fermentava,
Como a seiva nos ramos do arvoredo!
E a sede em fogo das idéias vivas
Onde está? onde foi? Essa alma errante
Que um dia no viver passou cantando,
Como canta na treva um vagabundo,
Perdeu-se acaso no sombrio vento,
Como noturna lâmpada, apagou-se?
E a centelha da vida, o eletrismo
Que as fibras tremulantes agitava
Morreu para animar futuras vidas?
Sorris? eu sou um louco. As utopias,
Os sonhos da ciência nada valem,
A vida é um escárnio sem sentido,
Comédia infame que ensangüenta o lodo.
Há talvez um segredo que ela esconde
Mas esse a morte o sabe e o não revela,
Os túmulos são mudos como o vácuo.
Desde a primeira dor sobre um cadáver,
Quando a primeira mãe entre soluços
Do filho morto os membros apertava
Ao ofegante seio, o peito humano
Caiu tremendo interrogando o túmulo
E a terra sepulcral não respondia.
Levanta-me do chão essa caveira!
Vou cantar-te uma página da vida
De uma alma que penou, e já descansa.
Álvares de Azevedo
1. Retire dos textos palavras macabras ou sombrias. *
Sua resposta
2. Que elemento representa a morte em cada poema? *
Sua resposta
3. De acordo com o poema "Glória moribunda", de pois da morte, o que resta da vida? *
Sua resposta
4. Qual dos dois poemas trata a morte com zombaria? Justifique sua resposta
Respostas
Resposta:
Antes mesmo de trabalharmos o gênero poema, é necessário
desenvolver uma atitude de leitura em que o aluno não mais tenta descobrir o
que está escrito, mas trabalha para construir um sentido para o que leu.
A partir desse tipo de leitura, uma leitura que não é descoberta, mas
construção, o aluno vai juntando pistas linguísticas, vai aprendendo a ler o
implícito.
Quando o aluno, por exemplo, preenche um quadro com as palavras de
“sentido negativo” e “ sentido positivo” estamos orientando a elaboração de
campos semânticos e associativos e isso poderá ajudá-lo a ler.
A pontuação nos ajuda na construção dos sentidos do texto. A
primeira questão desta ficha tem seu foco nisso. Converse com os alunos, leve
alguns textos nos quais se pode notar o uso expressivo dos sinais de
pontuação.
A partir do conhecimento de mundo dos alunos, as informações
sobre os bairros vão fazendo sentido. Pergunte a eles o porquê das relações:
samba/Vila Isabel, Santa Virgem/Penha, a garota/Ipanema, trabalho/Centro etc.
Explore também as rimas. Você pode fazer isso oralmente,
propondo que façam outras rimas possíveis, que combinem com o conteúdo do
texto. Esse é um exercício que trabalha o vocabulário do aluno. Aliás, a seleção
vocabular é fundamental no texto poético, em que a economia linguística ganha
especial relevância.
Outro aspecto importante é o ritmo construído pela pontuação. O
texto usa sequências curtas separadas por vírgulas, o que provoca um efeito
na leitura. Leve outros poemas para a sala e compare com eles para que
cheguem a conclusões sobre as características desse gênero textual.
O poema ao lado,
interessante para comparar, pois nele a pontuação é inexpressiva, sendo
importante a diagramação. Discuta com os alunos(as) de que forma a
diagramação contribui para a construção de sentidos no texto.Vida de Sapo, de José Paulo Paes, pode serPara construir o sentido de um texto, é preciso seguir as pistas que ele nos oferece – as palavras selecionadas, o modo como
foram “arrumadas” no texto, os sinais de pontuação utilizados. É muito importante ler, reparando nos detalhes...