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Na sociedade industrial contemporânea, uma das características dos jogos, das brincadeiras e das lutas é dispor de tempos e de espaços reduzidos e restritos para sua realização. Essas práticas corporais são entendidas como adequadas na infância e passam a ser vistas com certa suspeição quando executadas por adultos fora de academias de artes marciais ou de outros locais destinados a essa atividade.
Esse entendimento não se reproduz em sociedades indígenas, de uma maneira geral. GONÇALVES JUNIOR (2010)16 lembra que, no caso da etnia Kalapalo, jogos e brincadeiras – e podemos inferir que, por extensão, as lutas – “são realizados por homens, mulheres e crianças, pois em tal cultura o lúdico não é reprimido entre as pessoas adultas como geralmente acontece na cultura branca de raiz europeia, tampouco há ruptura entre tempo de trabalhar e tempo de brincar” (p. 61).
HERRERO, FERNANDES e FRANCO NETO (2006) também ressaltam que o aspecto lúdico é característico de alguns grupos indígenas do Alto Xingu, não apenas durante os jogos, mas de forma integrada às rotinas do cotidiano da aldeia. Os Kalapalo são uma das etnias que compõem o povo alto-xinguano, que habita as terras indígenas do Xingu, no nordeste do estado de Mato Grosso. Dentre os traços característicos do povo Kalapalo, podemos destacar a ausência de agressividade pública, a habilidade para evitar situações que causem desconforto ou constrangimento aos outros, a prática da generosidade e da hospitalidade, bem como a disposição para doar ou compartilhar seus bens materiais. Outra característica peculiar diz respeito ao fato de a ludicidade entre os Kalapalo não se restringir ao universo infantil, sendo própria também da vida adulta. “Há brincadeiras comuns em que meninos e meninas participam juntos e outras, específicas só de meninos, ou de homens, como são as danças ou os jogos de luta, nas quais o mérito está na preparação e na participação, tão somente” (HERRERO; FERNANDES; FRANCO NETO, 2006, p. 9).
Entre os povos indígenas do Alto Xingu, destaca-se um tipo de luta que em diferentes etnias, como Kuikuro, Mehinako, Kamaiurá e Wauja, entre outras, pode ser reconhecido por meio da expressão huka-huka, que representa uma onomatopeia em referência ao rugido da onça.
Contudo, essa mesma matriz de luta recebe uma denominação específica de acordo com o idioma de cada etnia e, no caso do povo Kalapalo, o huka-huka é denominado ikindene, que remete ao significado de uma espécie de “luta esportiva” ou “guerra contida”. A prática dessas lutas é bastante valorizada pelos povos alto-xinguanos, pois as etnias ali assentadas possuem verdadeira aversão às guerras, as quais são consideradas uma característica de subdesenvolvimento social, que pode ser resumida na frase de um representante da etnia Mehinaku: “nós não guerreamos, nós lutamos” (HERRERO; FERNANDES; FRANCO NETO, 2006, p. 173).
O ikindene é disputado sempre entre dois lutadores, que se desafiam encarando-se e girando simultaneamente no mesmo sentido até que um dos oponentes se ajoelhe, e o outro repita o gesto para, em seguida, se agarrarem nas regiões do tronco, dos ombros, do pescoço ou da cabeça. O objetivo do jogo é derrubar o adversário de modo que ele toque as costas no solo. No entanto, um simples toque de mão atrás do joelho do oponente também pode encerrar a luta.
Trata-se de uma luta relacionada com um evento maior, o Kwarup – celebração da vida e da morte que congrega as variadas etnias do Alto Xingu. No Kwarup, apenas os homens lutam o ikindene. É durante esse evento que os jovens são apresentados publicamente após um longo período de reclusão pubertária e se enfrentam também em lutas de ikindene. As mulheres têm a sua oportunidade de lutar em outra celebração, o jamugikumalu.
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não sei Men eu nem li pra saber
kiara4014:
utilidade pública
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