• Matéria: Português
  • Autor: lisabarra
  • Perguntado 5 anos atrás

Como doido, vou cantando

num reino que não tem rei.

E uma voz, de quando em quando,

como alguém que não me ouvisse,

murmura (donde nem sei)

velhas frases que eu já disse,

cantigas que eu já cantei!

Paro, súbito. Procuro.

¾ Quem será que canta assim?

Nada vejo: é muito escuro

o mundo em torno de mim.

Nada vejo, mas prossigo

pelas terras do ninguém.

Sei que levo alguém comigo,

mas não posso saber quem.

De repente o conhecido,

Sussurro de que falei

traz de novo a meus ouvidos

uns sons de cristais partidos

das risadas que já dei!

Paro, à força de um desejo.

¾ Quem dá risadas assim?

Olho em volta, mas não vejo

quem ri tão perto de mim!

Não vejo, entanto, caminho.

E, a cada passo que dou,

sinto que não vou sozinho:

2 / 3

como se eu próprio voltasse

à vida que já passou,

percebo que em mim renasce

o José que eu já não sou!

.........................................................................

Vida boa! só agora

descobri quem é o amigo

que, intransigente, a toda hora,

caminha junto comigo:

viva eu em paraísos,

caminhe por entre infernos,

palmilhe mundos sem fim,

trarei sempre estes eternos

murmúrios feitos de risos

em mistura com lembrança:

a voz da eterna criança

que vive dentro de mim!

GULLAR, Ferreira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2008.

Respostas

respondido por: kindcrazy524
0

Resposta:

taa bom não tem pergunta é só pra ler msm?

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