CARTA PARA QUEM TEM MEDO recado diário dos rios, do mar, das cachoeiras, das águas livres, das chuvas, das plantas,das estações do ano, da floração, dos frutos nas árvores, das folhas no chão, da vida dosbichos, do plantio, da colheita, nada disso parece suficiente para entender que aimpermanência é parte da aventura de estar vivo?Os segundos correndo, virando minutos e horas, arrastando nossas vidas pelas mãos, semtrégua, os meses, os anos, o começo do ano novo, nada disso serve para provar que somosparte de ciclos, que o tempo passa rápido e as grandes chances podem nunca voltar?A infinidade de idiomas, paisagens, pessoas, ideias, palavras, rostos, cores, desenhos decidades, trajetórias, narrativas, o tamanho da Terra, a extensão em quilômetros das linhasde trem, estradas pavimentadas, trilhas de areia, os cinco continentes, nada disso pode teconvencer de que é no mínimo estúpido permanecer parado?As biografias dos homens e mulheres que você admira justamente porque tiveramcoragem, mudaram de lugar, reajustaram o olhar, inventaram a própria vida, reinventarama sua condição, fizeram o que parecia impossível, ouviram alguma coisa quebrardolorosamente dentro de si antes de virar o rumo do barco, nem isso pode ser como umespelho escancarando a verdade que você precisa enxergar?Os idosos infelizes, mal humorados, taciturnos, já sem lábios para sorrir, que reclamamda vida, que deixaram o que era importante se perder no caminho, que colecionam a dordo que não foi feito, não foi dito, nem amado, nem vivido, que levam no peito o cofreindestrutível dos amargos arrependimentos, que encerram a cota limitada dos dias repassando na mente as cenas do que não aconteceu, nem eles podem te convencer de quea vida termina um dia e que toda covardia será cobrada?E a morte? A certeza incontornável de que um dia a vida acaba, que ninguém sabe quando,nem como, nem onde, nem o que se lembra depois, para onde se vai? Nem a experiênciade já ter dito adeus e saber que o que fica são as obras, os exemplos de vida, o que aspessoas vão falar de bonito sobre nós, o que deixamos de lição? A consciência da mortenão te faz pensar que é necessário ter coragem diante da vida?Você não percebe que algo muito forte está pedindo a todos nós para reinventarmos avida? Que o Espirito do Tempo clama por coragem? Você não acredita que é possívelrenascer várias vezes em uma mesma existência? E que se você não fizer isso que a vidapede agora, talvez não consiga ser feliz?A hora de mudar acontece quando a vida impõe uma posição. A dor individual e coletiva,por exemplo, é quase sempre a grande chance de refazer tudo. A oportunidade do amor,por outro lado, é a escolha mais garantida. O amor é sempre trilha.Uma carta feita de perguntas, é só o que posso fazer hoje por nós todos. Provocar odoloroso e urgente exercício da ecdise: abandonar a casca e sentir a dor para depoisrenascer mais forte. Uma carta inteira em torno de um só verbo: O motivador da crônica é *
opaulogilson:
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