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Em um primeiro momento, o MV parece ter um conceito um tanto diferente da letra da música – que fala sobre um desejo de ceder à tentação de um amor potencialmente tóxico. Mas, ao prestar mais atenção ao MV, os elementos visuais parecem se distorcer, redirecionando os sentimentos de saudade presentes na letra da música ao pecado de uma forma geral, ao invés de um amor ou parceiro romântico, transformando o MV colorido do BTS em uma análise profunda sobre a natureza humana.
O MV começa com os sete integrantes do grupo – RM, Jin, SUGA, J-Hope, Jimin, V e JungKook – brincando no que parece ser uma exposição de museu ou o hall de uma mansão. Mesmo estando rodeados de pilares de mármore e estátuas em poses artísticas, os garotos não parecem nem um pouco deslocados, com suas roupas de veludo cobertas por lantejoulas. Sem dúvidas, o cenário e as roupas extremamente chiques são uma caracterização adequada para o nível de desespero que “Blood, Sweat & Tears” deseja passar, pois se nem todo esse dinheiro e luxo pôde satisfazer os sete garotos, então seu desejo deve envolver bens que são ainda mais íntimos e preciosos do que o dinheiro. De seu sangue, suor e lágrimas ao seu corpo, mente e alma, o BTS parece convidar um amor ou poder superior para “levá-los embora”.
No momento em que o primeiro verso ofegante cai em um refrão viciante, com sintetizadores pesados, o BTS já está organizado em uma formação perfeita, enquadrados ao centro do piso de azulejos do cenário. Em sincronia com a batida, todos os integrantes inclinam simultaneamente suas cabeças para o teto, e agitam os dedos de uma mão sobre os olhos como uma venda improvisada.
Dadas as diversas referências religiosas espalhadas por todo o MV – como “A Queda dos Anjos Rebeldes”, de Pieter Bruegel, o Velho, retratando anjos expulsando seus irmãos caídos do Céu; a “Pietà”, de Michelangelo, uma escultura do corpo crucificado de Jesus Cristo deitado sob o colo de Maria; ou as cenas do BTS sentado ao longo de uma grande mesa de jantar coberta em prata, como uma versão de “A Última Ceia”, de da Vinci – essa coreografia demonstra a ignorância intrínseca da humanidade e seu desafio à Deus.
No retorno do refrão, outros passos da coreografia aparecem: sarradas ao estilo de Michael Jackson e movimentos de corpo que novamente relembram a corrupção da humanidade e seu desejo de pecar.
Logo após o final do terceiro refrão, com uma nota certeira e aguda, toda a música para de repente, e um interlúdio cinematográfico surge. Em uma cena colorida e de alto contraste em vermelho e preto, uma silhueta aparece, soltando um balão lentamente. Uma narração de RM começa junto com a cena, onde declama uma citação de “Demian”, de Hermann Hesse, que fala sobre a luta espiritual entre o mundo maligno da ilusão versus o mundo bom da verdade interna: “Ele também era um tentador; ele, também, era um elo com o segundo, o mundo maligno com o qual eu já não quero me relacionar”. Em meio à música do órgão que começa a tocar, Jin surge se aproximando de uma grande estátua de forma humana, com um par de asas pretas saindo de suas costas, lembrando a imagem de Lúcifer.
O fato de Lúcifer parecer estar no centro de uma exibição de um museu pode significar o quanto os seres humanos o adoram inconscientemente, colocando-o em um pedestal (tanto literal quanto metafórico), ao mesmo tempo em que eles subestimam seu poder, vendo-o apenas como uma imagem de entretenimento. O ângulo da cena consegue capturar Jin de maneira brilhante, com seu corpo bloqueando a estátua aos poucos, fazendo com que uma ilusão de que as asas pretas estão nos ombros de Jin, como um prelúdio de sua “queda”. Confirmando sua submissão à tentação do pecado, Jin aparece beijando a estátua de Lúcifer no final da cena.
PS: Eu queria ser a estátua ;-;