• Matéria: Artes
  • Autor: sjuniel134
  • Perguntado 5 anos atrás

A valorização dos padrões culturais europeus perpetuos se no Brasil:

Respostas

respondido por: leticiaganem11
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Resposta:

Quando falamos de Brasil, desde logo o que podemos dizer é que o traço cultural mais marcante de nosso país e a nossa principal face é a heterogeneidade. Somos, como já defendido por Ribeiro (1995), um povo claramente híbrido.

Além da patente heterogeneidade e diversidade de nossa cultura, antropólogos como Darcy Ribeiro e Roberto DaMatta, e ensaístas, sociólogos e historiadores, tais como Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr. e Raymundo Faoro, defendem que temos alguns traços culturais marcantes como, por exemplo: a cordialidade e a preferência por relacionamentos pessoais afetivos ocasionadas por uma valorização da família-paternalista como norteadora de todas as relações sociais (Holanda, 1973); a malandragem e o jeitinho brasileiro (DaMatta, 1983); a grande distância entre as camadas sociais, ou melhor, entre "os donos do poder" e o povo (Freyre, 1963; Prado Jr., 1948; Faoro, 1976); o erotismo (Freyre, 1963); a não valorização do trabalho manual (Freyre, 1963; Hollanda, 1973); a valorização de outros países em lugar do nosso, ou melhor, o estrangeirismo (Barbosa, 1999) etc. A pergunta que resta, vendo esses traços, é se eles influenciam na gestão que se pratica em nosso país.

Guerreiro Ramos (1983) destaca que o fenômeno administrativo está sujeito ao condicionamento histórico-social. Conforme já apontado por Hofstede (1984), a cultura nacional influencia, sobremaneira, a cultura organizacional e, além disso, as estruturas organizacionais são filtradas pelo conjunto de crenças que cada um tem, deixando claro que os traços histórico-culturais de um dado país se manifestam nas organizações deste país (Prestes Motta, 1995). Assim, a compreensão de nossas características culturais é de vital importância para se poder entender o comportamento dos indivíduos nas organizações, porção organizacional em que, de fato, tais características se expressam cotidianamente.

No que diz respeito à peculiaridade brasileira, inúmeras tentativas têm sido feitas no sentido de explicitar e mostrar as relações entre a cultura nacional e as organizações locais (Barros e Patres, 1996; Borges de Freitas, 1997; Prestes Motta e Caldas, 1997), de se desenvolver uma teoria organizacional brasileira (Guerreiro Ramos, 1983; Serva, 1990) e de se verificar a influência de traços específicos de nossa cultura nas organizações locais, tais como: o paternalismo (Bresler, 1997; Davel e Vasconcelos, 1997), a preferência pelas relações familiares (Colbari, 1995), a fixação do brasileiro na figura do estrangeiro (Caldas, 1997), o jeitinho brasileiro (Alcadipani, 1997). Além disso, análises muito interessantes vêm sendo realizadas a respeito das organizações tipicamente nacionais, como a Gaviões da Fiel (Costa, 1997), o jogo do bicho (Fischer e Santos, 1995) e um barracão de escola de samba (Vergara e Palmeira, 1997).

Neste ensaio, discutiremos a relação entre subjetividade e gestão de pessoas, ressaltando a realidade de nosso país, ou seja, como os traços culturais brasileiros podem influenciar na maneira pela qual as pessoas são percebidas, geridas, administradas e controladas.

Dentro deste contexto, nossa contribuição tentará discutir um traço históricocultural que vemos como marcante na cultura brasileira e que influencia sobremodo as organizações locais tanto em sua teoria como em sua prática e especialmente a maneira pela qual a gestão das pessoas se dá nas organizações brasileiras, qual seja, a valorização do estrangeiro, traço aliás já analisado por Caldas (1997) no mundo organizacional. Pretendemos fazer isso analisando a valorização do estrangeiro que, muitas vezes, se dá mascarada por uma pretensa busca de modernidade, a partir de duas leituras distintas da cultura brasileira. A primeira servirá de suporte para a segunda, uma vez que são visões complementares e que se sustentam.

Assim, a primeira análise e primeira parte deste ensaio foi desenvolvida por meio das figuras retóricas do colono e colonizador apresentadas por Calligaris (1991), ao passo que a segunda se dará mediante o levantamento histórico-cultural - baseada nas leituras clássicas de nossa formação e de nossa cultura que, de acordo com Cândido (1973), são as obras de Prado Jr. (1948), Freyre (1963) e Holanda (1973) - desse traço e sua presença ao longo da formação nacional. Por fim, tentaremos argumentar que no mundo organizacional em geral e na gestão de pessoas em particular o estrangeirismo tem forte papel de segregação, aspecto, aliás, freqüentemente negligenciado neste mundo. Antes, porém, gostaríamos de fazer duas considerações fundamentais.

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