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paradoxo da democracia significa:
Procurando refletir sobre os novos desafios globais deste início de século XXI - da fadiga democrática e da regressão política e social (Appadurai, Bauman) à slowbalization (The Economist) -, optámos por revisitar Anthony Giddens e os seus textos referenciados em epígrafe, sendo que relativamente ao segundo incidimos essencialmente na recensão do capítulo sobre os meios de comunicação social, de forma a procurarmos discutir estas questões no contexto da aproximação entre dois conceitos centrais no nosso domínio científico - media e globalização - a partir, justamente, dos pontos de vista de Giddens.
Uma das questões essenciais que hoje se coloca prende-se com o crescimento do desencanto face à globalização e também com o recuo da geopolítica e da economia aos “velhos” grandes blocos regionais, numa espécie de novo ciclo da “glocalização”. Ultrapassada, aparentemente, essa “época de ouro” da globalização dos anos 1990-2010, agora, a economia global reconfigura-se num processo de arrefecimento a que se pode chamar de slowbalization, o qual terá resultado não somente de um recentramento geoespacial das supply chains, mas também da entrada, com a era digital, de novos atores e influenciadores dos mercados, dos prosumers, dos sistemas de crowdfunding, modelos de desintermediação blockchain, que se interpõem por entre debilidades dos mercados e Estados, reconfigurando-se assim ritmos e modelos na atual globalização lenta ou, talvez melhor, recentrada em grandes blocos no plano regional.
Embora esta slowbalization não estivesse descrita enquanto tal no livro O Mundo na Era da Globalização (Runaway World: How Globalization Is Reshaping Our Lives, no original), Giddens já deixava sinais de que tal poderia acontecer, pelo menos na dimensão política, quando se refere ao “paradoxo da democracia”. Isto é, ao mesmo tempo que a democracia aparentemente se expande por toda a parte, (…) “nas democracias maduras, que o resto do mundo está supostamente a copiar, existe uma enorme desilusão quanto aos processos democráticos” (2017, p. 70), surgem os défices democráticos, as reduções de soberania, as flutuações das economias, etc.
Convirá, no entanto, reter que o princípio estruturante do modelo de globalização de final de século foi a forte aceleração tecnológica então registada, designadamente no plano dos sistemas de comunicação. Se a “democratização” da televisão teria dado porventura o seu contributo para a queda do muro de Berlim, o fim do apartheid na África do Sul e a conquista do direito de voto por parte da população negra norte-americana, a internet e a massificação das tecnologias da informação criaram expectativas não confirmadas de fenómenos de reforço da experiência democrática pela participação e pela emergência de um modelo cívico/deliberativo, ou fenómenos de colonização inversa, ou de desintermediação, ou mesmo de pluralidade de mercado e de não concentração, todos eles, afinal, mais em regressão do que em expansão. Aliás, nestas trocas entre o local e o global a primeira fratura surge exatamente na reemergência de nacionalismos locais face às tendências globalizantes. Uma segunda fratura surge na dimensão crescente dos novos riscos, dos financeiros aos ambientais, e na cada vez maior separação entre cosmopolitismo e fundamentalismo. Recorde-se Giddens: “O fundamentalismo é filho da globalização. (…) Podemos pensar que o fundamentalismo sempre existiu. Não é assim; desenvolveu-se em resposta às influências da globalização. (…) A própria palavra data de início do século XX, quando foi usada para descrever as crenças de algumas seitas protestantes dos EUA (…)” (2017, pp. 52-53).
No contexto dos valores da democracia política, na tensão e conflito entre respeito e confiança vs autoritarismo e intolerância, Giddens defende que a democracia estará de facto “minada por dentro” quando deixa emergir essas formas anómalas, essa corruptela da “democracia das emoções”. Impor-se-ia assim um aprofundamento da democracia e da cultura cívica, “democratizar a democracia” tal como ele coloca. E, finalmente, a questão dos media: “os media, especialmente a televisão, têm uma relação equívoca com a democracia (…). A televisão e os outros media, graças à vulgarização constante e à personalização das questões políticas, tendem a destruir o próprio espaço público de debate que abrem” (2017, p. 76).
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