A seguir temos quatro poemas que abordam o mesmo tema: o amor. Leia-os com atenção e faça uma breve pesquisa sobre o período em que os autores produziram e explique as diferenças entre os textos:
=======================================================================
TEXTO I
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões
TEXTO II
Teus olhos são negros, negros, Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;
[...]
Teu sorriso é uma aurora
Que o horizonte enrubesceu,
— Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu;
[...]
Teu seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;
[...]
Teu amor na treva é — um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa — nas calmarias,
É abrigo — no tufão;
Por isso eu te amo, querida
Quer no prazer, quer na dor...
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.
Castro Alves, Recife, 1867
TEXTO III
objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo
seja a estrela que me beija oriente que me reja
azul amor beleza
faça qualquer coisa mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja
Paulo Leminski, Caprichos e relaxos.
TEXTO IV
Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal?
Se boa por que tem ação mortal?
Se má por que é tão doce o seu tormento?
Se eu ardo por querer por que o lamento?
Se sem querer o lamentar que val?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
Tanto podes sem meu consentimento.
E se eu consito sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca,
Eu vou para o alto mar e sem governo.
É tão grave de error, de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio E tremo em pleno estio e ardo no inverno.
Francesco Petrarca
Respostas
Resposta:
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
5 Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
10
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Texto II
Evocação do Recife
(fragmento)
1
5
10
15
Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois -
Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
----------------------------------------------------------------------------------
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
20
25
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
01. A comparação entre os dois poemas acentua diferenças formais e temáticas que marcam
momentos distintos da literatura brasileira: o Parnasianismo e o Modernismo. Tomando por base os
textos selecionados, argumente sobre a afirmação acima, justificando sua resposta com fragmentos
dos textos. Lembre-se de que um discurso literário que surge, normalmente, contesta o movimento
anterior.
Leia com atenção:
“O objetivo da arte pela arte é o Belo, a criação da beleza pelo uso perfeito dos recursos artísticos;
nesse sentido, levaram ao exagero o culto do ritmo, da rima e do vocabulário”.
02. Argumente sobre o que está posto acima, tomando como referência o texto “A um poeta”, Olavo
Bilac.
Explicação: