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Após a queda dos titãs, a ordem voltou a imperar sobre a Terra. Em meio à paz, a vida pululava. No mar, cardumes brilhantes nadavam entre as ondas. Manadas de animais corriam pelas planícies ou escalavam os montes. Pássaros se equilibravam nas correntes de vento, no céu agora firmemente fixado lá em cima. Tudo parecia estar em seu lugar. Mesmo assim, Prometeu, o mais sonhador dos deuses, estava melancólico.
Prometeu era filho do titã Jápeto, e irmão do desventurado Atlas. Na impetuosa e violenta família dos titãs, Prometeu era o mais ponderado. Quando teve início a rebelião dos olímpicos, ele logo havia percebido para que lado as coisas estavam se inclinando. Sem hesitar, abandonou o próprio clã e se juntou aos rebeldes, convencendo seu irmão mais novo, Epimeteu, a fazer o mesmo. Após o triunfo olímpico, o sábio titã foi recompensado. Enquanto tantos de seus familiares eram lançados no Tártaro, Prometeu e Epimeteu tiveram a permissão de seguir vivendo sobre a Terra, agora governada por Zeus.
Mas todos nós conhecemos esta sensação: nas aparências, tudo está bem, mas alguma coisa essencial parece estar faltando. Era assim que o visionário Prometeu se sentia em suas andanças pelo mundo. Sem saber exatamente o que planejava fazer, sentou-se certa vez nas colinas da região grega de Fócia. Apanhou um punhado de terra, misturou um pouco da água de um córrego e começou a moldar o barro.
Abrindo as mãos, Prometeu contemplou sua obra: uma figura feita à imagem de um deus, porém mais modesta e frágil. Ficou encantado com a beleza singela de sua própria criação e resolveu fazer várias réplicas. Ao fim do dia, uma pequena legião de estatuetas de barro estava enfileirada ao seu redor. Prometeu sentiu-se tão encantando por seus pequenos novos companheiros que os presenteou com a vida.
Os mitos não explicam como ele conseguiu esse prodígio. O fato é que a argila foi se transformando em carne, pele e osso – e os homens recém-criados começaram a olhar o mundo ao seu redor. “Enquanto os outros animais andavam a quatro patas, com o rosto voltado para o chão, o ser humano foi criado para manter a cabeça erguida, observando o céu majestoso e as estrelas brilhantes lá em cima. E a Terra mais uma vez mudava, perante a desconhecida forma da humanidade”, escreveu o romano Ovídio no poema As Metamorfoses. Mas lembre: Prometeu criou apenas os homens. As mulheres viriam depois. Embora vivos e dotados de espírito, os humanos continuavam paralisados, como se um medo terrível os petrificasse. Isso acontecia porque, ao criá-los, Prometeu havia lhes dado também o dom de ver o futuro, comum entre alguns titãs. E, como eram mortais, os humanos não cessavam de ver mentalmente a hora de suas próprias mortes. Para livrá-los desse medo, Prometeu apagou o dom da profecia e os homens passaram a viver em uma abençoada ignorância. Apenas alguns deles, os profetas e videntes, preservaram o dom de ver o futuro. Por fim, a curiosidade e o medo se mostraram mais fortes que o rancor. E Zeus ordenou que Héracles, o maior dos heróis gregos acabasse com o terrível martírio de Prometeu.
Certa manhã, quando a águia faminta ia descendo sobre o corpo do titã, uma flecha zuniu no espaço. O pássaro da dor tombou sobre o rochedo. E, logo, mãos fortes romperam as correntes forjadas por Hefesto. Prometeu respirou num alívio indescritível após 30 anos de sofrimento. Em seguida, segurou a mão que Héracles lhe estendia. Enquanto o Sol surgia sobre o Cáucaso, o mais poderoso dos homens ajudou o criador da raça humana a caminhar para a liberdade.