quais eram as punições que jornalista poderiam sofrer se não seguisse as orientações dos censores militares, ajudar aí pôr favor
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Resposta:ola espero ajudar
Explicação:
Onze meses antes da prisão, a jornalista chegou à Folha da Tarde, jornal onde trabalhava, e notou um sujeito
que nunca tinha visto antes. Sentado com o rosto inclinado para baixo, como quem lia algo, ele ostentava um cabelo
grisalho que destoava do ambiente repleto de jovens repórteres. Horas depois, o AI-5 seria anunciado no jornal e com
ele a notícia de que o forasteiro não se tratava de um jornalista, mas, sim, de um censor. A partir de 13 de dezembro, a
liberdade de imprensa viraria uma letra morta no Brasil. "O que mais chegava na gente era a censura. Toda hora vinha
telex da Polícia Federal dizendo o que podia e o que não podia. A censura foi uma das coisas mais violentas para mim."
Enquanto Nogueira já estava no mercado de trabalho quando o AI-5 foi decretado, Ana Maria Estevão dava os
primeiros passos em direção à universidade. No cursinho em que se preparava para o vestibular de serviço social, a
medida gerou debates e uma certeza: "Se alguém pensava em chegar à Presidência por meio de eleições, essa ilusão já
não existia mais", afirmou. Ainda que o AI-5 tenha escancarado a natureza autoritária do regime, ela lembra que muitos
não acreditavam que a situação poderia piorar tanto. Naquele momento, disse ela, ainda não havia a real dimensão de
como a violência aumentaria.
Quando jovem, a professora universitária se engajou na militância por meio da religião. Ligada à igreja
metodista, ela encontrou em textos bíblicos as reflexões necessárias para questionar a pobreza que a cercava. Na ocasião,
participava de passeatas e promovia debates políticas no grupo da igreja, práticas interrompidas após o AI-5. “Depois
que a violência e o terror de Estado foram acirrados, as pessoas se calaram.” Apesar desse clima de medo, ao entrar na
universidade, em 1969, a efervescência política ainda sobrevivia.
Estevão chegou a ser presidente do centro acadêmico de serviço social, à época proibido de funcionar. Na
organização, conheceu militantes ligados à esquerda e um deles, que estava na clandestinidade, recebeu abrigo na
república de estudantes em que morava. "Mas essa pessoa se apresentou à Operação Bandeirantes em 1970 e abriu tudo.
Absolutamente tudo. Quando cheguei lá, tinha umas 30 pessoas além das que moravam na minha república." Essa seria
a primeira de três prisões. Em uma delas, Estevão ficou de frente com coronel Ustra, ex-chefe do DOI-Codi e o primeiro
militar a ser condenado por crimes de tortura, em 2008.
"Tenho essa imagem bem clara. Estava pendurada no pau de arara e ele entrou na sala. Eu pesava 46 quilos na
época e tenho 1,60 metro de altura. Então ele falou: ‘Olha, ela não vai aguentar. Ela é muito magra’." Como não tinha
comprometimento grande nas organizações armadas, acharam por bem tirá-la do pau de arara. Na segunda vez em que
viu Ustra, Estevão recebeu um pedido do militar: como ele também era metodista, a jovem poderia ligar para seu telefone
caso a pessoa que estavam procurando aparecesse.
Depois da prisão, a pesquisadora diz que as consequências psicológicas daqueles momentos custam a
desaparecer. "Até hoje faço análise. Meus pais morreram sem saber exatamente como é que foi a tortura. Nunca tive a
coragem de contar para eles. Nunca. Levei 40 anos para falar publicamente sobre isso." Ela destaca também que a
religião, algo que lhe era tão caro na juventude, acabou se perdendo nos porões do regime militar.