Qual a relevância da agricultura dentro do processo de estruturação econômica e social da região norte
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Resposta:
O Meio-Norte do Brasil apresenta uma população de 8,48 milhões de habitantes, dos quais 5,64 milhões residem no Maranhão e 2,84 milhões, no Piauí. No Maranhão, 40,49% da população (2,29 milhões) vive no campo, constituindo o Estado com a maior população rural do país. A população rural do Piauí é de 1,05 milhão de habitantes (37,10%), composta, em sua maioria, de agricultores familiares com baixo poder aquisitivo e acesso limitado à tecnologia.
Entretanto, apesar de uma parcela significativa da população desses dois Estados ser essencialmente rural, existe uma carência muito grande de alternativas tecnológicas adequadas às condições socioeconômicas dos agricultores familiares, fazendo com que os mesmos subsistam às custas de métodos extremamente ineficientes de produção agropecuária. Tal situação decorre do fato de que as pesquisas desenvolvidas, geralmente, não têm levado em consideração os sistemas de produção adotados pelos agricultores, oferecendo, em contrapartida, tecnologias por produto, as quais sugerem o uso intensivo de insumos modernos e de capital, que são escassos para o pequeno agricultor e descaracterizam a forma de uso da mão-de-obra que, em geral, é de origem familiar.
A tecnologia para a agricultura familiar deve ser simples, popular e basear-se nos seus próprios sistemas de produção, dando ênfase aos recursos locais e nativos. O desenvolvimento da agricultura familiar deve começar com o conhecimento das necessidades dos produtores e da forma como eles as percebem.
No Piauí, o sistema de produção agrícola familiar em uso consiste, basicamente, num consórcio de três ou mais culturas em roça não-destocada, cujo preparo da área se resume na derrubada da vegetação e queima. Trata-se de um sistema de agricultura itinerante, no qual após um ciclo de cultivo, a área é mantida sob repouso por 6 a 10 anos, para regeneração da vegetação. O sistema de produção animal ocorre de forma extensiva, sem qualquer amparo tecnológico, seja com relação às instalações, ao melhoramento genético ou aos manejos alimentar e sanitário.
Com base nesse quadro, a Embrapa Meio-Norte está validando alternativas tecnológicas para a melhoria dos sistemas de produção agropecuária, em uso pelos agricultores familiares. O projeto está sendo executado na comunidade Boi Manso, município de Regeneração, o qual encontra-se situado na microrregião do Médio Parnaíba piauiense, utilizando uma metodologia participativa, que prevê o envolvimento dos membros das comunidades nas decisões a serem tomadas. Tal metodologia consiste, essencialmente, nas seguintes etapas:
Diagnóstico da situação das unidades familiares e de seus sistemas de produção.
Proposição de melhorias tecnológicas para os sistemas de produção.
Validação de alternativas tecnológicas, gerenciais e organizativas dos principais sistemas de produção identificados.
Diagnóstico
Foi realizado, em 1997, o levantamento da situação socioeconômica das unidades familiares das comunidades, e dos seus sistemas de produção. O diagnóstico constou da aplicação de 99 questionários em 26 comunidades, que possuíam associação de pequenos produtores rurais, nos municípios de Amarante, Jardim do Mulato e Regeneração, situados na microrregião do Médio Parnaíba piauiense. Os resultados obtidos foram os seguintes:
Cerca de 68,7% dos chefes de família e 63,7% das donas de casa eram analfabetos. O modo de produzir não incluía, praticamente, o uso de insumos. A tecnologia indicada pela pesquisa não tinha sido, ainda, incorporada ao processo produtivo, mesmo aquelas mais simples. Verificou-se que 97% das sementes utilizadas para semeadura eram retiradas da própria produção. Cultivavam arroz, milho, feijão, mandioca e fava, geralmente, em consórcio de até quatro culturas (Figura 1), justificando a baixa produtividade individual. A distribuição das culturas dentro do consórcio, em 85% dos casos, era feita de acordo com a própria experiência ou de agricultores vizinhos. No consórcio mais utilizado (arroz + milho), que era praticado por 31% dos agricultores, os rendimentos médios obtidos no ano de 1997 foram de 1.085 kg.ha-1 de arroz e 400 kg.ha-1 de milho.