Respostas
O movimento modernista, que se configurava nos pródromos de 1922, teve apoio do então presidente do estado de São Paulo, Washington Luís, especialmente por meio de René Thiollier, advogado e escritor brasileiro, que solicitou patrocínio para trazer os artistas do Rio de Janeiro – Plínio Salgado e Menotti Del Pichia –, membros de seu partido, o Partido Republicano Paulista, para compor o time de artistas de São Paulo. Além do apoio dessas personalidades, é preciso destacar, a Semana de Arte Moderna foi financiada em boa medida pela plutocracia paulista, formada principalmente pela oligarquia cafeicultora. Isso mostra que não se tratava exclusivamente de uma iniciativa cultural, propriamente. O que havia ali eram interesses políticos bem estabelecidos e que – como é comum na trajetória política brasileira – eram manifestados de cima para baixo, sem a intervenção ou a possibilidade de participação das camadas populares.
"O entusiasmo criativo modernista brasileiro se deu pelos modelos italianos em voga no início do século XX europeu. Mais especificamente, Oswald teve sua inspiração no Manifesto Futurista de Marinetti"
Pensando nas reverberações da Semana de Arte Moderna para a cultura brasileira como um todo, o argumento chave que pede uma revisão histórica do processo pode ser encontrado no Manifesto Antropofágico. Escrito por Oswald de Andrade – principal agitador cultural do início do modernismo brasileiro e que fundamentou a Antropofagia –, o Manifesto foi lido em 1928 para seus amigos, na casa de Mário de Andrade. Redigido em prosa poética, o documento possui entonações mais políticas que o anterior manifesto de Oswald, o da Poesia Pau-Brasil – escrito quatro anos antes, em 1924 –, que pregava a criação de uma poesia brasileira de exportação. Esteticamente, o segundo manifesto de Oswald, basicamente, reafirma os valores daquele, apregoando o uso de uma língua literária não catequizada. Acontece que o texto publicado teve inspirações nada tupiniquins. De fato, o entusiasmo criativo modernista brasileiro se deu pelos modelos italianos em voga no início do século XX europeu. Mais especificamente, Oswald teve sua inspiração no Manifesto Futurista de Marinetti. Escrito por Filippo Tommaso Marinetti – e publicado no jornal francês Le Figaro, em Fevereiro de 1909 – o Manifesto Futurista inaugurou um dos mais importantes movimentos artísticos do período, tendo por base os desenvolvimentos tecnológicos de finais do século XIX. Ora, não era justamente o abandono dos ideais estéticos estrangeiros, ainda muito em voga no país, que os modernistas brasileiros propunham? Eis uma contradição...
Regionalismo
Sob essa influência, em 1927, um grupo de adolescentes – formado por Aurélio Buarque de Hollanda, Arnon de Mello, Manuel Diegues Júnior, Mendonça Júnior, Paulo Malta Filho, Raul Lima, Valdemar Cavalcanti, Emílio de Maya, Carlos Paurílio e Aluísio Branco – criou em Maceió – uma cidade pequena, bastante pobre à época e com pouco mais de noventa mil habitantes – o Grêmio Literário Guimarães Passsos que, em 17 de junho de 1928, realizou a Festa da Arte Nova, uma espécie de Semana de Arte Moderna da cidade. Mas a entrada desses jovens na modernidade do século XX foi comemorada somente quando, em 23 de junho de 1929, promoveram a Canjica Literária, um evento regionalista, sob influxos de Jorge de Lima e de José Lins do Rego. Não obstante, no ano de 1931, ainda sob os rescaldos da Revolução de 1930 – movimento armado, liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou com o golpe de Estado, o Golpe de 1930, que depôs o presidente da República Washington Luís e que pôs fim à Primeira República – na capital alagoana, sem nenhum patrocínio, sem influência dos poderosos políticos e sem o apoio da imprensa ou da mídia em geral, diversos escritores do nordeste reuniram-se com suas mais recentes obras para discutir os rumos da literatura nacional. O intuito era avaliar o que se tinha produzido até então e definir quais seriam as aberturas artístico-literárias que dariam conta de apresentar e representar o Brasil como ele era, ou seja, mostrar aos leitores as mazelas e agruras da vida cotidiana, dando ênfase ao regionalismo nordestino. Estavam presentes no encontro personalidades como Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Jorge de Lima, Gilberto Freyre, José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda, José Américo de Almeida, entre outros.