• Matéria: Português
  • Autor: marianavianacantuari
  • Perguntado 5 anos atrás

LIVRO BISA BIA BISA BEL OQUE ISABEL QUERIA APRENDER COM SUA MAE

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respondido por: pandasakamaki19
7

Resposta:

Bisa Bia, Bisa Bel foi publicado originalmente em 1982, e a edição ao lado comemora os mais de 500 mil exemplares vendidos, além de um rol de prêmios, entre eles o Maioridade Crefisul (1981), o Bienal São Paulo de melhor livro infantil do biênio (1984) e o merecido lugar na Lista de Honra do IBBY (1984).  

Durante uma das arrumações de sua mãe, Isabel toma contato com o passado, por meio dos objetos e fotografias que as duas encontram numa antiga caixinha de madeira. Uma das fotos era da mãe, o que já inquieta bastante a menina.  

“Eu olhava para minha mãe e para o retrato da menina, achava meio gozado aquilo, minha mãe criança, brincando no galho de um camelo, pensando em balão d’água. E era meio esquisito, ela grande ali na minha frente, sentada no chão, explicando as coisas” (p. 8).  

Mas as coisas se complicam mesmo quando ela se depara com o retrato de sua bisavó, Beatriz. Para surpresa de Isabel, ao tentar colocar a foto no bolso, ela começa a ouvir uma voz – este foi o começo das longas conversas que teria com Bisa Bia, que passaria então a acompanhar a menina na escola e nas brincadeiras, sempre dando conselhos e opiniões, e deixando-a às vezes em situações embaraçosas com os colegas. Mas, afinal,  

“Como é que eu podia explicar (…) que Bisa Bia estava existindo agora para mim?”  

A história é contada pela própria Isabel, em primeira pessoa, num tom espontâneo que reproduz bem o fluxo do pensamento da protagonista, com leveza e alguns toques de humor, mas com uma delicadeza e ingenuidade capaz de levar às lágrimas o leitor mais sensível. A curiosidade e o estranhamento marcam os títulos dos capítulos – “Pastel bochechuda”, “Tatuagem transparente”, “Trança de gente” – e nos fazem tentar antecipar os acontecimentos.  

Bisa Bia, a voz da tradição e de um outro modelo de feminilidade, não apreciava as brincadeiras “de menino” de Isabel, que não eram coisa de mocinha bonita e bem-comportada. Mas, apesar das censuras, o contato com Bisa Bia faz com que a menina conheça coisas de um tempo que já passou – toucador, baba-de-moça –, e a autora faz dessas pequenas descobertas um elemento interessante que apela para a curiosidade e passa longe de um aprendizado puro e simples. Contrapondo-se a Bisa Bia, surge então, num momento-chave para a personagem, Neta Beta, uma outra voz que começa a se intrometer nas conversas apresentando um ponto de vista bastante diferente.  

As duas vozes, de Bisa Bia e Neta Beta, acabam fazendo com que Isabel encontre um meio-termo entre as duas maneiras de ser menina e mulher. Nas palavras dela,  

“Impossível saber sempre qual o palpite melhor. Mesmo quando eu acho que minha bisneta é que está certa, às vezes meu coração ainda quer-porque-quer fazer as coisas que minha bisavó palpita, cutum-cutum-cutum, com ele… Mas também tem horas em que, apesar de saber que é tão mais fácil seguir os conselhos de Bisa Bia, e que nesse caso todos vão ficar tão contentes com o meu bom comportamento de mocinha, tenho uma gana lá de dentro me empurrando para seguir Neta Beta, lutar com o mundo, mesmo sabendo que ainda vão se passar muitas décadas até alguém me entender. Mas eu já estou me entendendo um pouco – e às vezes isto me basta.” (p. 53)  

Este trecho é um exemplo marcante de como Ana Maria Machado encontra-se em harmonia com os sentimentos da pequena leitora, afinal a maioria das meninas, na infância, fica insegura sobre como se comportar, sobretudo diante dos meninos.  

Ilustração e projeto gráfico estão em sintonia, e remetem ao próprio clima da narrativa. Suaves e delicadas, parecendo feitas a lápis, em preto de branco, remetem ao passado e à tradição, favorecendo uma apreciação reflexiva do que se vê e lê. As ilustrações, premiadas com o Jabuti em 1984, retratam cenas atuais da personagem, mas também objetos da época de sua bisavó que povoam o imaginário da menina.  

O desfecho é emocionante e surpreendente, e a protagonista descobre por si mesma que as três – Isabel, Bisa Bia e Neta Beta – juntas são invencíveis.

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