• Matéria: Português
  • Autor: joannakkkj
  • Perguntado 5 anos atrás

Leia o conto abaixo e responda as questões:


Lá no morro

 

AVISTEI-O subindo o morro. Mamãe estava junto ao

fogareiro. Corri alarmado para avisá-la: “Papai envém aí”. Ela me 

espetou os olhos apagados e os lábios se moveram lentamente. 

Não disse nada. 

Papai atravessou a porta em silêncio e ao invés de chutar o 

tamborete arredou-o de leve. Observou-me num relance. Depois 

olhou mamãe que estava de costas, e deixou-se cair no tamborete. 

A cabeça pendeu sobre o caixote como se se tivesse desprendido 

do corpo. Não exalava cachaça, desta vez. Surpreendi-me 

avançando na sua direção. Parei perto do caixote com as pernas 

trêmulas, e antes que eu percebesse meus dedos já tocavam o 

ombro de papai. 

Mamãe permanecia imóvel junto ao fogareiro, como se

esperasse que a mão pesada a atingisse a qualquer momento. 

Angustiava-me um sentimento doloroso por papai: era como se o 

estivesse descobrindo sob a camada de violência, e agora ali 

restasse não apenas meu pai, mas a própria criatura humana na 

sua dimensão essencial e indestrutível. Olhei para mamãe. E gritei-lhe

desesperadamente “Mamãe!” sem que ao menos tivesse 

necessidade de abrir a boca. 

Afinal mamãe se voltou com o prato de comida e viu minha 

mão pousada no ombro de papai. Colocou o prato no caixote, perto 

da cabeça de papai. Ele continuou quieto, a respiração funda e 

descompassada. Mamãe acendeu a lamparina, e a claridade 

arredou as primeiras sombras da tarde para os cantos do cômodo. 

Em seguida, mamãe preparou a minha marmita e por último o seu 

prato e ambos nos sentamos, eu no chão e ela no outro tamborete. 

O arfar intenso de papai doía no silêncio. Olhei mamãe. 

Mamãe me olhou e disse: 

– Come. 

Depois fitou papai, de esguelha, e levou até à boca uma 

pequena porção de arroz. Mas teve logo que deixar o garfo de lado 

para conter o acesso de tosse com a mão. Papai então levantou a 

cabeça, encarou-a com os lábios abertos. Seu rosto estava molhado 

de suor. Abaixou os olhos para mim, fungando, e deixou a cabeça 

pender novamente sobre o caixote. 

Ouvimos passos no quintal. Três homens saltaram dentro 

do barraco e um deles arrancou a cortina que dividia o cômodo.

Antes que o coração me socasse o peito e mamãe imobilizasse o 

garfo e papai erguesse a cabeça, tiraram-no do tamborete, 

torcendo-lhe os braços. 

Papai não tentou reagir, sequer parecia surpreso. Era como 

se já estivesse esperando aquele momento. Nem ao menos olhou 

para os homens que o subjugavam. Fitava apenas mamãe, imóvel e 

fria do outro lado do caixote. Um dos homens levantou o punho e 

bateu-lhe seguidamente na cara. Com a boca ensangüentada, 

recebia as pancadas sem tirar os olhos de mamãe. 

Levaram-no, os braços presos às costas. Os socos 

continuavam no quintal e eram mais nítidos quando pegavam na 

cara de papai. As batidas foram-se distanciando. Mamãe estava 

com a cabeça quase dentro do prato e as lágrimas escorrendo de 

seu rosto pingavam sobre o resto da comida. A marmita ainda 

tremia em minhas mãos e eu comecei a vomitar. 


Wander Piroli 


Como é a relação familiar descrita no conto?

A que classe social pertence os personagens da narrativa?

Pela leitura do conto podemos inferir que o comportamento do pai quando chega a sua casa é diferente do habitual ou seja ele mostra-se menos violento e hostil?Que passagens nos permitem chegar a essa conclusão?

Que crítica social é feita na narrativa?

Quem narra o texto?

Considerando que o clímax é o momento de maior tensão dramática do texto,em que momento ele ocorre na sua opinião?

Respostas

respondido por: luiza05silvadantos
0

Resposta:

São os personagens todos ela

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