Friedrich Nietzsche fez uma crítica à filosofia tradicional à partir de Sócrates criando assim uma teoria feita a ”golpes de martelo”. Como se deu essa crítica?
Respostas
Resposta:
Nietzsche e a condenação à solidão
A filosofia nietzschiana é feita a golpes de martelo: tende a agredir bases que se estabeleceram de forma histórico-social, ou talvez, tornar estas bases como socialmente constituídas, visto que se busca destituir a transcendentalidade dos valores e da vida.1 Tudo escapa às mãos dos ídolos, o homem se vê despido diante de Nietzsche, tudo lhe é arrancado. Despido diante do mundo, resta-lhe apenas a vida.2 Não tendo para onde desviar os olhos, o homem é obrigado a viver, não pode mais se esconder, não tem como não mais assumir sua obrigação diante do mundo. Assim, pretendemos passar por três pontos martelados por Nietzsche em sua filosofia: a metafísica, o cristianismo e a linguagem para pensar o homem como um algo só no mundo.
Explicação:
O martelo sobre a metafísica
O pensamento metafísico tem seus primórdios no “ser” de Parmênides. Ele configura as bases que influíram sobre as preocupações de vários filósofos; de Platão à Kant, todos se preocuparam com o conhecimento do “existir das coisas”, “da essência das coisas”, do “ser dos entes”3. Parmênides, assim, é quem inicia a especulação filosófica para além do mundo como se apresenta, para além do mundo material; Marias (2004) assim o descreve:
Parmênides é o filósofo mais importante de todos os pré-socráticos. Significa na história da filosofia um momento de fundamental importância: o surgimento da metafísica. Com Parmênides, a filosofia adquire sua verdadeira hierarquia e se constitui de forma rigorosa. Até então, a especulação grega havia sido cosmológica, física, com um propósito e um método filosófico; mas Parmênides quem descobre o tema próprio da filosofia e o método com qual se pode aborda-lo. Nas mãos dele a filosofia passa a ser metafísica e ontologia; já não versa mais simplesmente sobre as coisas, mas coisas enquanto são, ou seja, como entes. (...) A tal ponto que a filosofia stricto sensu começa com ele, e o pensamento metafísico conserva até os nossos dias a marca que lhe imprimiu a mente de Parmênides. (MARIAS, 2004, pp.22-23)
A partir de Parmênides, o pensamento filosófico passa a ser embebido pela metafísica e se torna necessário especular sobre a natureza das coisas: as ideias de Platão, o “ser” Aristotélico, o cogito de Descarte, o idealismo de Kant, tudo versa sobre possibilidade do “ser” das coisas: se realmente conhecemos as coisas como são, se elas se apresentam em si, se elas apresentam apenas como nossa mente pode reconhecê-las, se são apenas juízos, se são aparências.
Nietzsche (1844-1900) negará a tradição filosófica, o filosofo alemão desviará do percurso de Parmênides: no embate sobre o sobre o “ser”, preferirá a Heráclito: não há essência a se encontrar nas coisas, não há “ser nos entes”, a realidade flui, panta rei4, na sentença de Heráclito. Nietzsche assim se posiciona:
Separo, com profundo respeito, o nome de Heráclito. Se os demais filósofos rejeitaram o testemunho dos sentidos, porque os sentidos são múltiplos e variáveis, Heráclito rejeitava tal testemunho porque apresenta as coisas como dotadas de duração e unidade. Também Heráclito foi injusto com os sentidos, que não mentem, nem à maneira que os eleatas se figuravam, nem como ele acreditava; em geral, não mentem. O que fazemos com seu testemunho é que introduz nele a mentira; por exemplo, a mentira da unidade, a mentira da realidade, da substância, da duração. A razão é a causa de falsearmos o testemunho dos sentidos. Estes não mentem quando nos mostram o vir a ser das coisas, o desaparecimento, a mudança. Mas em sua afirmação segundo a qual o ser é uma ficção, Heráclito terá eternamente razão. O mundo das aparências é o único real, o mundo, verdade foi acrescentado pela mentir.(NIEZSCHE,2001,p.22)
A realidade flui, o rio não é o mesmo5, não há “ser” por trás das coisas. Assim, Nietzsche nega a metafísica de Parmênides. Dividir a realidade em “realidade” e “aparência”, entre “verdade” (quando se descobre o ente) e “opinião” (dada pelos sentidos), eis o nascimento da metafísica (MARIAS,2004,p.24). Os sentidos mostram apenas o “mundo da aparência”, mas é aqui que existe o mundo, o erro dos filósofos foi negar a “aparência”, foi negar os “sentidos”:
Quereis que vos diga tudo que é peculiar aos filósofos?... Por exemplo, sua falta de sentido histórico, seu ódio à idéia do devir, seu egipcismo.(...) Tudo com que os filósofos se ocupam há milhares de anos são idéias — múmias; nada real saiu vivo de suas mãos. Todos acreditam desesperadamente no ser. Porém como não podem apoderar-se dele, buscam as razões segundo as quais ele lhes escapa: "É forçoso que haja aí uma aparência, um engano por efeito do qual não podemos perceber o ser — onde está o impostor?" já o apanhamos gritam alegremente — são os sentidos! (NIETZSCHE,2001,p.21)
Resposta:
Alternativa 1:
Com a célebre frase "Deus está morto", Nietzsche quer dizer que a ideia de Deus como fundamento de valores éticos e a certeza foram desprezadas, ou seja, é uma ideia cuja vida chegou historicamente ao fim.
Explicação: