• Matéria: Português
  • Autor: samuelbcs
  • Perguntado 5 anos atrás

A ÚLTIMA PARTE DO TEXTO (Até dia 26/03/2021)

A responsabilidade transgeracional leva ao questionamento ético. Assim, segundo Jonas, antes de se perguntar sobre que poderes representariam ou influenciariam o futuro, devemos nos perguntar sobre qual perspectiva ou qual conhecimento valorativo deve representar o futuro no presente 36 . O poder tecnológico permitiu um mundo totalmente novo, em que o senso comum se une ao científico diante da popularização de seus objetos. Portanto, a utopia não se tornou projeto poético, que pode ser cantado, como fizeram os gregos. Ela se tornou a possibilidade de um futuro sombrio, e é preciso humildade para reconhecer as múltiplas possibilidades de análise do poder tecnológico, pois somente assim seus desígnios podem ser assimilados.

A razão substituiu o medo, que, por sua vez, substituiu a virtude e a sabedoria. E é por ele que são construídos os modernos sistemas de proteção contra a tecnologia, posto que se trata de saber se, sem restabelecer a categoria do sagrado, destruída de cabo a rabo pelo Aufklärung (Iluminismo) científico, é possível ter uma ética que possa controlar os poderes extremos que hoje possuímos e que nos vemos obrigados a seguir conquistando e exercendo 37 . A partir desse ponto, Jonas apresenta quais seriam as feições de uma ética do medo, sempre voltada ao coletivo e baseada na aplicação da filosofia política, ou seja, da justiça do Estado. Assim, o universalismo do potencial apocalíptico dos grandes males leva a prognóstico coletivo que necessariamente exige o agir responsável para evitar o aniquilamento da humanidade.

Para Jonas, quatro preceitos justificam o elemento do agir dentro da ética: 1) a coletividade, pois é por ela que existe a regra da responsabilidade em relação à filosofia política, isto é, da aplicação da justiça; 2) a humanidade não tem direito ao suicídio; 3) os grandes riscos tecnológicos mostram a soberba e o excesso de conforto da existência humana, e portanto não há necessidade de gerar mais condições para preservar a humanidade; e 4) a existência humana deve ficar a salvo de experiências que a coloquem em risco ou em estado de vulnerabilidade 19 . Como visto, Jonas busca integrar elementos extra-humanos à ética tradicional kantiana, para além da racionalidade instrumental que converteu o sapere aude no princípio de Bacon: saber é poder.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em muitos aspectos, a ciência e a tecnologia atuais e sua relação com a humanidade e a natureza remontam ao Aufklärung. Nesse modelo, a ética está centrada no indivíduo; o Outro é momento segundo do eu, e a natureza, insumo a ser instrumentalizado. Na cultura individualista, a alteridade é percebida como algo secundário.

As graves crises sociais, políticas e, por fim, ecológicas que a humanidade vem enfrentando desde a segunda metade do século XX deixaram a descoberto as fragilidades epistêmicas e éticas do legado da modernidade como um todo e do Aufklärung em particular. Ao atual modelo de produção e consumo, que explora a natureza como objeto externo de recursos ilimitados, soma-se o alto poder de interferência das novas tecnologias na natureza e na vida. Se pela primeira vez na história da humanidade somos a geração que tem o potencial de impactar a vida sobre a Terra de modo irreversível, é urgente pensar novas matrizes epistêmicas para a ciência, novos modelos de produção e consumo e novos referentes éticos que contemplem nossa responsabilidade para com a vida do planeta Terra como um todo.

Em momento de crise da racionalidade instrumental, surge o pensamento de Hans Jonas, um dos primeiros filósofos a enxergar que há possibilidades reais de a vida ser extinta do planeta e, por isso, deve-se instaurar nova ética baseada na responsabilidade para com as gerações futuras. Desta forma, Jonas substitui o mote iluminista sapere aude por conscius aude , expressão latina que cunhamos para simbolizar o pensamento jonasiano nesse particular.

Foi necessário sair da sombra da razão instrumental para entender que a ética não pode se limitar aos interesses das atuais gerações. Não podemos agir apenas segundo nosso interesse atual. Há um Outro que nos interpela eticamente, as futuras gerações, para com as quais temos responsabilidade.

Este questionamento da ética das gerações futuras trouxe consigo nova concepção de cuidado do Outro. A abertura para a alteridade é constitutiva das relações humanas; somos constituídos pela relação com o Outro, que é a possibilidade de ser o que sou. O cuidado não é concessão moral do eu, mas resposta ética a interpelação radical. Nessa perspectiva, a própria natureza é integrada na alteridade, deixando de ser objeto inerte para se tornar um Outro diferente do humano, mas de que dependemos para existir. Assim, a bioética deve superar a compreensão casuística que até agora demonstrou para se entender como ética do cuidado da vida, do cuidado do Outro.

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respondido por: dudarolim05
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rafaelairespere: krlhooo, poeta
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