Respostas
Resposta:
qual a perguntar?
Explicação:
boiando agora
Resposta:
Francisco, 22 anos, era um eletricista que gostava muito
de sair com seus amigos para beber cerveja nos fins de
semana. Sempre teve boa visão, mas há algumas sema-
nas percebeu que ela se tornou embaçada, e as cores dos
fios elétricos com que trabalhava pareciam mais esmaeci-
das do que de costume. Como o problema não melhorou,
Francisco consultou um oftalmologista, que, durante o
exame, percebeu alterações na retina do jovem: tumefação
de disco (pseudoedema da camada de fibras nervosas da
retina) e aumento da tortuosidade dos vasos sanguíneos
retinianos. Gradualmente, sua visão central foi piorando,
e o eletricista teve de abandonar seu emprego. Sua mãe,
Terezinha, era uma mulher sadia de 49 anos, com dois ir-
mãos: Antônio, 54 anos, que tinha cegueira decorrente de
atrofia óptica, diagnosticada desde os 28 anos, e Dora, 50
anos, que até sua quarta década de vida não apresentara
problemas visuais, mas vinha perdendo lentamente sua vi-
são central. Além disso, em um recente exame minucioso,
Dora descobriu que tem um ritmo cardíaco raro que talvez
pudesse estar relacionado a seus problemas oculares. O
oftalmologista aconselhou Francisco a procurar uma clí-
nica de genética, para obtenção de diagnóstico e prognós-
tico exatos, uma vez que o jovem deseja saber também se
seus filhos terão risco de ser afetados como ele. Na história
familiar do probando, consta que seus avós maternos já
faleceram; o avô aos 68 anos, por doença cardíaca corona-
riana, e a avó aos 77 anos, por câncer de mama. O pai e a
irmã de Francisco, bem como o casal de filhos de Antônio e
a filha de Dora, não apresentam problemas visuais.
A natureza dos problemas oculares, o avanço rápido
dos sintomas nos homens afetados, o início mais tardio e
doença mais moderada em Dora, que também apresenta
problemas de ritmo cardíaco, levaram o geneticista con-
sultado por Francisco a sugerir que sua condição poderia
ser a neuropatia óptica hereditária de Leber (LHON), que
apresenta amplo espectro de sintomas e início variável.
Essa doença é causada por uma mutação no DNA mito-
condrial (mtDNA). Se esse tipo de herança for confirma-
do, Francisco e sua namorada poderão tranquilizar-se
quanto a sua prole, uma vez que o homem não transmite
seu DNA mitocondrial aos filhos.
Comentário
A escolha desse caso clínico ressalta a necessidade de se
conhecer a existência do genoma mitocondrial, com suas
particularidades, e o impacto no organismo exercido pe-
las mutações mitocondriais que porventura ocorram. A
disfunção mitocondrial parece estar envolvida na maioria
das principais doenças conhecidas, como diabetes tipo
II, aterosclerose, câncer e doenças neurodegenerativas
(doenças de Alzheimer, Huntington e Parkinson) e psi-
quiátricas (esquizofrenia e transtornos bipolares), além
de suscitar até uma hipótese para o envelhecimento, com
base no acúmulo progressivo de mutações no mtDNA e
perda associada da função mitocondrial.
As doenças mitocondriais humanas mostram grande
variabilidade nos seus quadros clínicos devido à grande
quantidade de mutações no DNA mitocondrial. Os ór-
gãos com alta demanda energética são, em geral, os mais
afetados: cérebro, coração, músculos esqueléticos, olhos,
orelhas, pâncreas e rins. Além disso, a interação entre os
genes mitocondriais e os nucleares pode sofrer distúrbios
variados. A LHON (OMIM 535000) resulta do funciona-
mento inadequado das mitocôndrias, já tendo sido asso-
ciadas a essa doença 18 mutações pontuais, entre as quais
cinco têm um efeito suficientemente grave para causá-la.
A maioria dos casos, pelo menos em pessoas de origem
europeia, é causada pelas mutações G11778A (substi-
tuição de G por A no nucleotídeo 11778 do gene ND4),
G3460A (troca de G por A no gene ND1) e T14484C (tro-
ca de T por C no gene ND6), que causam problemas no
complexo I (NADH-desidrogenase) do sistema de fosfori-
lação oxidativa, a via final da respiração celular. Em geral,
são testadas essas três mutações específicas, mas, se ne-
nhuma estiver presente, é necessária uma pesquisa mais
ampla, inclusive sequenciamento parcial do mtDNA. Os
indivíduos podem ser homoplásmicos (moléculas idênti-
cas de mtDNA) ou heteroplásmicos (moléculas diferentes
de mtDNA) para as mutações mitocondriais, por isso a
testagem completa de mutações inclui a verificação das
quantidades relativas de mitocôndrias normais e mutan-
tes, pois a proporção de células heteroplásmicas aumenta
com a idade. O resultado mostrou que Francisco era ho-
moplásmico para a mutação G3460A, confirmando assim
o diagnóstico de LHON. Nesse caso, sua prole não será
afetada, uma vez que a transmissão das mitocôndrias é
realizada somente por intermédio do gameta feminino.
Por outro lado, toda a prole de uma mulher afetada (p.
ex., Dora, tia de Francisco) poderá ser também afetada,
ainda que as condições mitocondriais sejam muito variá-
veis em uma mesma família.