Texto para a questão.
Sem dúvida, uma das perguntas mais feitas a quem escreve é: de onde vêm suas histórias? Confesso que nunca soube a resposta. A mim, sempre interessou outra pergunta: para onde vão as histórias? A curiosidade começou aos 15 anos, quando passei a frequentar sebos. Deixando de lado os clássicos e os best-sellers, eu passava horas nas estantes em busca de romances de autores pouco conhecidos, de quem nunca havia ouvido falar. Naqueles anos, o processo de garimpo me trouxe boas surpresas. Histórias têm a força de vencer o tempo. Enquanto devorava os livros na madrugada, pensava: “Caramba, o sujeito foi médico e escreveu esse único romance em 1940, e agora eu estou aqui, lendo”.
Quando comecei a publicar meus romances, o processo se inverteu. A primeira vez ocorreu no metrô. Eu estava a caminho do escritório de advocacia onde estagiava quando avistei uma moça lendo meu livro de estreia, Suicidas. Aproximei-me do banco onde ela estava sentada e, em silêncio, observei-a ler. Fiquei intrigado: ela não era nenhuma amiga ou filha de amigos, seu rosto não era familiar, era uma completa desconhecida. Como entre tantos livros no mundo, ela havia escolhido o meu para ler? E por quê? Não tive coragem de abordá-la. Fazer isso seria romper uma espécie de ritual sagrado. Ela foi-se embora no mar de gente da estação Cinelândia, com meu livro debaixo do braço. Eu me corrijo: com o livro dela debaixo do braço. Depois de escritas, as histórias não são mais de quem escreve, mas de quem lê.
MONTES, Raphael. Veja, 7 out. 2020, p. 91.
No final do texto, ocorre uma contradição quando o narrador afirma que seu livro é, na verdade, da moça que o leva embora debaixo do braço. No texto, essa incoerência revela a
A
inabilidade do autor para escrever com coerência.
B
diferença entre a autoria e a posse material do livro.
C
concepção de que o leitor se torna o dono da história.
D
predileção da moça por outro livro, não o do narrador.
E
constatação de que a moça também era uma escritora.
Respostas
Resposta:
C
Explicação:
pois quem lê forma a historia
A contradição por parte do narrador revela a diferença entre a autoria e a posse material do livro.
Portanto, a alternativa correta é a letra b.
Quando o narrador afirma que a moça estava indo embora com o livro dele debaixo do braço, ele quer dizer que ela estava indo embora com o livro que ele escreveu. O livro na verdade, é dela; tanto pelo fato de ela o ter comprado e ter o direito a posse do mesmo, quanto porque na visão do autor, depois que as histórias são escritas, elas não pertencem mais aos seus autores e sim aos leitores.
A incoerência da questão foi escrita propositalmente para criar a oportunidade de o autor demonstrar o seu ponto de vista sobre a quem pertencem as histórias.
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Espero ter ajudado!