A partir do Utilitarismo de Jeremy Bentham e em tempos de pandemia do Covid-19, seria legítimo diminuir os salários e direitos dos trabalhadores para preservar as empresas?
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Dois caminhos possíveis, ambos levando a vítimas inevitáveis. O experimento mental desenvolvido por Philippa Foot, mais conhecido como dilema do bonde (trolley problem)[1], parece ter saído dos livros de filosofia e invadido a vida real. A pandemia causada pelo SARS-CoV-2 tem obrigado governos a fazer escolhas com consequências potencialmente trágicas e sem muito tempo para reflexão, vez que a velocidade de propagação do vírus se mostra implacável. Não há unanimidade entre os pesquisadores sobre qual estratégia seguir e, nos cenários atualmente à disposição dos governos, não há normas que objetivamente orientem sobre qual caminho seguir. Em qualquer caso, o preço da decisão será pago na moeda mais cara: vidas humanas.
Não é a primeira vez que enfrentamos um dilema parecido. Por isso, podemos recorrer à história e à filosofia – sempre elas – e voltar os olhos para antigos pensamentos, a fim de questionar se as soluções finalmente adotadas podem ser consideradas éticas e, principalmente, humanas. O Dilema do Bonde está no bingo das aulas de Introdução ao Direito e Filosofia do Direito das universidades, principalmente por conta da notoriedade que ele adquiriu após Michael Sandel utilizá-lo em sua aula magna em Harvard e citá-lo no best-seller.
Basicamente, o dilema nos coloca diante da seguinte situação hipotética: imagine que você é o maquinista de um bonde. Alguns metros à frente, cinco pessoas estão trabalhando desatentas nos trilhos. Você tenta frear, mas percebe que o bonde está desgovernando. Ao seu lado existe uma alavanca que pode fazer o bonde seguir por outra linha; entretanto, nela também há um trabalhador desatento. Você deixa o trem seguir e matar cinco pessoas ou puxa a alavanca, condenando uma pessoa à morte? É essa, em curtas linhas, a parte inicial do problema que conta com desdobramentos[3] cuja exposição aqui não se faz imprescindível para enfrentar o impasse que temos a nossa frente: o dilema do vírus.